NAS BUSCAS DE UM CINAMOMO
Jose Luiz Flores Moró
Nem sei se há em nós a mesma
idade...
Mas crescemos sorvendo o
mesmo mate
Que as manhãs derramam, feito
orvalho,
No corpo-caule da
árvore-guri.
Meus pés descalços, como tuas
raízes,
Pisotearam fundo
nossa terra fofa,
Sugando o néctar vital da
juventude
Para as artérias de sangue e
clorofila.
Tive o minuano a me abanar no
peito
Nas propulsões do leque de
teus ramos
E no lombilho mouro da tua
casca dura
Cavalguei, com poses de
ginete,
A troteada mágica em que
carne e cerne
Cicatrizam os corpos
Para um centauro de pelagem
verde!
Campos de um mundo fictício
Devastado num tropel
fantástico
Pela perseguição a um touro
imaginário...
... um
tropeiro menino, ofegante,
mantendo firme, no laço de cipó,
os chifres maleáveis dos teus galhos!
Comemos o sal do mesmo cocho
Posto às gramas peladas dos
rodeios
Que os sonhos pisotearam
Em fins de tardes.
Os nossos brotos nos rasgavam
a carne
E os nossos corpos se
afloravam ao mundo!
Eu e você – dois meninos
Fincando raízes vida á dentro
Na busca da fantasia e do
virtual,
Sem preocupar que o rigor das
invernias
Te tirava a roupa e me “emponchava” a
pele.
E eu assisti,
Na primavera infinda de um
setembro,
O níveo-azul bonito de tuas
flores
Cavalgar o mal-me-quer dos
ventos;
Mas não sem deixar,
No trono absoluto dos teus
pomos,
O verde-oliva brilhante dos
teus frutos
Pra que eu jogasse “bolitas” com os meus sonhos!
Entretido, talvez, tu nem notastes
Os pêlos fatídicos que me
anunciaram homem
E me fizeram desmontar em
outro tempo
Sem, ao menos, te alertar
De que eu cresci!
... E lá me fui,
Montar em outros potros
Que a realidade destina para
os tombos
E onde o corredor mostrava o
rumo
Eu fiz troteada
Pra não mais voltar!
Talvez nos vernizes de tua
cela em que eu montava
Tenha criado o limo da
saudade,
E as tuas copas franzinas de
minhas podas
Tenha varado as vastidões do
céu
Brotando olhos curiosos nos
teus galhos
Pra me campear além dos
horizontes!
Pois tu ficaste solito
A matar no peito verde
As tempestades que corroem a
vida,
Enrijecendo o cerne para os
sentimentos
Mas guardando intacto no
bornal dos anos,
Marcado à
ferro no teu lombo pardo,
“Recuerdos”
tristes de um cavalo errante
Que levou um menino
E nunca devolveu!
Mas eu te sinto bem perto
muitas vezes
Quando os solavancos da vida
me chacoalham
E, tenho certeza, que nas
horas mais compridas
Quando o sol dos infortúnios
me castiga,
É tua sombra que paira em
meus cansaços
Para dizer-me que a árvore
frondosa do menino
Continua mais saudosa
E mais amiga!