LUZES DO CAMPO
José Luís Flores Moró
Desde
piazito que eu araganeava
pelas lides teatinas das estâncias.
Porém,
necessitava ter constância
e
dar de rédeas à curiosidade,
pois apenas de causos nos galpões
e
pela geografia xucra dos peões
eu
conhecia um pouco da cidade.
Antigamente
apenas me bastava
ficar na porteira observando,
bem
lá longe, as luzes cintilando
como balés de fogo sobre os campos;
e
a impressão que dava, quando ao
vê-las
era
de que montavam todas as
estrelas
sobre a garupa brasal dos
pirilampos.
Não
me cansava a rotina das
fazendas,
muito menos alambrados,
marcações,
porém, pelas janelas largas
dos
galpões
eu ruflava as minhas asas dea
ansiedade
e
me tornava uma outra luz
tremeluzente
todo repleto de um sonho
florescente
de
ser, também, um vaga-lume da
cidade.
Um
dia na tardinha alcei pelegos
e
me bandiei curioso para o povo.
Embora
que ainda eu fosse muito
novo,
era
falquejado da lonca dos
minuanos.
E,
na mala de garupa sobre as
costas,
separei os desafios e as apostas
pra
creditar na conta dos meus
planos.
Fiz
rondas nos luares de mercúrio
que
iluminavam a busca dos meus
sonhos
e
provei dos pesadelos mais
medonhos
dessa paisagem linda, mas traiçoeira
ao
descobrir que essas luzes da
cidade
cobravam taxas demais da
sociedade
e
não brilhavam mais do que a
boieira.
Já
era tarde, pois o vírus da
metrópole
nutriu-se do meu sangue
aventureiro
e
aquelas marcas antigas de
campeiro
deram lugar as cicatrizes de favelas,
que
eu tentei esconder dos meus
princípios,
mas
que afloraram de armas e
munícios
ante o fogo cruzado das seqüelas.
Numa
favela mal iluminada
que
é a sobra dos meus sonhos de
alquimia
me
preparo para o entrevero de
outro dia
sorvendo mágoas no prazer do
chimarrão
sabendo que, ainda logo, pra
consolo,
serei tropeiro pra concreto e pra
tijolo
entre os andaimes de um prédio em
construção.
E
no edifício, os
meus olhares de
retorno
procuram um horizonte lá na frente,
mas
meus olhos cimentados de
servente
enxergam apenas as luzes que eu
sonhei
como enormes vaga-lumes
transloucados
rindo com piscares debochados
das
luzes verdadeiras que deixei.