DOCES BONECAS
José Luiz Flores Moró
Dei luz à bruxa de pano
Nos partos da brincadeira
E beijei cabelos de linha
Para mimar meu rebento!
Eu era a mãe mais “coruja”
Porque tinha a filha única
Que só eu sabia tê-la,
E coloquei todas as estrelas
No brilho dos seus olhinhos.
Fui pediatra, curandeira,
Professora e conselheira
Na explosão dos meus
carinhos!
Na casinha imaginaria
Em que meus sonhos viviam
Não tinha muitas riquezas,
Mas a luz da minha alma
Que iluminava as paredes
Plantava enormes jardins
Nas janelas acortinadas.
Vesti-me de Cinderela
E fui Gata Borralheira
Para encenar nas brincadeiras
Todos meus contos de fadas!
Haveria de vir um príncipe
Todo vestido de bruma,
E com seus lábios de seda
Beijar-me o rubro das faces
E me acordar dessa inocência!
Cabelos esvoaçantes,
No seu cavalo dourado,
Ele apontou no horizonte
Para excitar os meus sonhos!
Foi ternos dias de encantos
Juras de amor e esperança,
Que o coração da princesa
Absorto a tanta beleza
Perdeu a tez de criança!
Cabelos esvoaçantes,
No seu cavalo dourado,
Ele sumiu no horizonte
Para matar os meus sonhos!
Deixando o sêmen no ventre
Que faria outra boneca
Com o barro da realidade!
Entre o tropel das tormentas
E a fúria dos vendavais,
Vou brincar de ser mamãe
Com uma filha de verdade
Hei de vestir-me de Anita
Mesmo sem ter Garibaldi
E escalar, pedra por pedra,
Os muros desse infortúnio;
E essa bruxinha de pano
Nos braços da minha filha
Não mais vai ser filha única!
Esse rebento sagrado
Que vai nascer só com mãe
Vai ser o conto mais lindo
Do meu mundo “era uma
vez...”,
Pois vou por todas as
estrelas
No brilho dos seus olhinhos,
Serei pediatra, curandeira,
Professora e conselheira
Na explosão dos meus carinhos!