ÂNSIAS LIBERTAS
José Luis Flores Moró
I
Escancarei porteiras da minha
alma
Pra libertar alguns potros do
passado
“Recuerdos”
e cambixos extraviados
Que se afloraram de noitadas
calmas
E se vieram, novamente, bater
palmas,
Uns antigos fantasmas
depravados,
Personagens dos medos
encantados
Que me legaram todos os meus
traumas!
Então deixei cruzar - que vão-se ao léu!
Pois já não me basta
conseguir o céu
Sem sapecar meus espíritos no
inferno!
Que se rompam bretes e alambrados!
Pois mais “me gusta” o vício e o pecado
Que morrer vazio pra me
tornar eterno!
II
Vou despojar de mim todo o
meu grito
E despejar do fundo da alma
os eremitas,
Pois não mais quero me tornar
proscrito
Dessas utopias insólitas e
infinitas!
Só eu devo lapidar minhas
pepitas
E proteger meu ouro favorito!
Não me basta construir
mesquitas
Se todo o meu tijolo for
gratuito!
Cabe a eu edificar todos os
meus temas
E compor ou expressar apenas
O que de belo em mim ainda
existe!
Vou refazer antigos teoremas,
Colocar mais sorriso nos
poemas,
Embora escritos com palavras
tristes!
III
Quero mergulhar nos meus
oceanos
E sugar o lodo dessa água
escura,
Extinguir do tempo inertes
anos
E abandonar meus itens de
procura.
Que importa o rito: Se
pagão... Profano...
Pra eu recriar minha própria
criatura?
O que interessa é que no
abrir dos panos,
Eu não me afunde mais na
sepultura!
E nem quero mais parecer tão
dócil
Quando as larvas me roerem o
fóssil
Por eu parecer humilde e
decomposto!
Danem-se as leis e
instituições malevas,
Se eu puder expressar, nas
trevas,
Um sorriso sarcástico em meu
rosto!
IV
Não quero sofrer outros
flagelos,
Nem beliscar as cascas das
feridas,
Pois vou construir outros
castelos
Nos patamares de escadas
destruídas!
Hei de serrar o aço dos meus
elos
Sem lágrimas quaisquer de
despedida,
E extinguir intimidades...
Paralelos
Que me façam lembrar da
antiga vida!
Ao implodir as pedras dos
escombros
Vou tirar o peso dos meus
ombros
E arrancar os cravos dessa
cruz!
Pois quem foi ao poço mais
profundo
Consegue vivenciar e enxergar
o mundo
Por uma réstia minúscula de
luz!