OS POTROS E O VENTO

José Machado Leal

 

Estâncias de nuvens vagando no céu.

No pampa silhuetas de potros

Que pecham no vento,

que sopra na noite

Dos meus ancestrais.

E eu a pensar...

 

Eu que me busco no ontem dos tempos,

querendo razões para ser o que sou,

procurando clarões que me mostram caminhos,

me indiquem estradas que devo trilhar.

 

E o grito das gentes

reboa nos campos,

nas matas, nos mares

e se confunde ao aço tinindo

no choque de espadas;

machado no angico,

enxada na terra

e espora nos potros

que pecham no vento,

que sopra na noite

dos meus ancestrais.

E eu a pensar...

 

Eu me vejo chegando e partindo

ao lado dos homens de longos cabelos,

com barbas de luto, com vinchas molhadas

do suor das tropeadas que nunca têm fim.

 

E os lenços vermelhos,

que às vezes são brancos,

se agitam no tronco das lanças,

que rasgam caminhos

no meio da noite

dos meus ancestrais.

 

E eu a pensar...nas negras melenas

do homem que foi e, que, um dia,

mais brancas que a lã dos merinos

se chegam a mim.

 

Baú de memórias,

de tempo e de infâncias

que as silhuetas dos potros

trouxeram da noite

dos meus ancestrais,

me fazendo pensar...