Peão de Estância
José Hilário Retamozzo
Eu vejo cristo em cada peão
de estância,
E em cada estância um horto permanente,
É sempre véspera de cristo
morto,
Por quanto ajudas, o destino torto
Beija-lhe a face,
traiçoeiramente.
Eu vejo cristo em cada peão
de estância,
Irmãos pelo destino muito
igual,
Conduzem tropas sem olhar o
pêlo,
Apartam mansos para ter sinuêlo,
E marcam pela fé e pelo
sinal.
Nas rudes mãos quando se
aquece o fogo,
A igualdade do gesto que
abençoa,
No jeito manso e nos sinais
estranhos,
A presença de amor pelos seus
rebanhos,
Mesmo que seja uma tropinha atoa.
Pastor que se preocupa e sai
em busca,
Da ovelha que do rumo
desgarrou.
E quando a encontra acorda
outros pastores.
Quer que eles saibam dos
reais valores,
Da que caiu e que se
levantou.
Nos seus entendimentos de
índios brutos,
Na vida o que lhes tem maior
valor,
São os humanos estas
criaturas,
Carentes de carinhos e
ternuras,
Desiludidas e pedindo amor.
Talvez nem saibam que Jesus
existe,
Mas são iguais... exatamente iguais
Ao cristo que morreu no santo
ofício,
De salvar seu rebanho ao
sacrifício,
Das mazelas de todos os
mortais.