Pedro
velho, maragato,
residia
num reduto de chimangos,
que
a lo bruto não respeitava ninguém.
Topetudos,
costas-largas,
afilhados
do intendente
que
era um maula quebra-dentes
e apaniguado
também.
Arruaças,
provocações, mentiras,
chistes,
intrigas,
às
vezes algumas brigas
e
eles donos da razão!
Lenços
brancos ao pescoço
montados
em bons cavalos,
eram
reis para os vassalos
do
medo, nesse rincão.
Pedro
velho, maragato,
nas
lidas de sua estância
guardava
sábia distância
dos
chimangos arbitrários,
mas,
às vezes, por acaso,
não
conseguia, na estrada,
fugir
nalguma cruzada,
de
encontros desnecessários.
Firmava
os olhos tranqüilos
nos
maulas apadrinhados.
E
eles até intimidados
pela
franca valentia,
guardavam
chairas e facas
na
bainha dos rancores,
resmungando
seus temores
pela
voz da covardia.
Uma
feita, num domingo,
depois
de uma carreirada,
ali,
na volta da estrada,
no
que desponta do mato,
na
restinga, Pedro velho
topou-se
num redepente
com
dez chimangos de frente
e
ele, tão só - maragato.
Foi
cercado pela fúria,
já
de algum tempo contida.
Pressentiu
que a sua vida
valia
o brio que se tem...
As
adagas inimigas
relampaguearam
no espaço
e
ele aparou-as no braço,
já
de arma na mão também.
Formou-se
bárbara luta,
horrível
e desparelha!
Seu
lenço - chama vermelha!
Altivo,
revoluteia
dentro
do ciclo branco.
Boca
escancarada de um poço
e
sangria no alvoroço
dessa
trágica peleia.
Pedro
velho, maragato,
no
meio, valente e só.
Nuvens
de raiva e pó
erguem-se
deles em torno
e o
suor de Pedro, escorrendo,
gruda
na terra vermelha,
e
logo já se emparelha
ao
próprio sangue ainda morno.
Pontaços
de ódio profundo
como
sinuelos da morte.
Riscos,
planchaços...
Um
corte no peito, ali...
bem
em cima do coração maragato,
que
aos poucos,
sangra
e se esvai...
Cambaleia.
Quase cai,
porém,
de novo se arrima.
Olha
no fundo dos olhos
deles
todos, um por um
e o
gesto igual e comum de todos
foi,
de desvia-los e tremeram,
por
sentirem nos corações
de covardes,
a
firmeza sem alardes
de
um gauchão a enfrentá-los.
Depois,
caiu estirado.
Adaga
longe da mão
igual
a uma cruz humana.
O
vento no fim da tarde,
brincou
com as franjas
do
lenço vermelho do morto...
Imenso
e só, na gesta pampeana.
A
noite veio, e com ela,
o
silêncio, a escuridão...
O
corpo na imensidão da pampa
mais
solitário, ali,
junto
a restinga e o mato...
Era
o fim do maragato
e o
começo de um fadário.
Ali,
onde Pedro velho
viu
a penúltima luz
que
se alteia na paisagem,
sa
mãe, com devoção,
ali
deixou amarrado
um
lenço velho, encarnado,
como
última homenagem.
Passaram-se
muitos anos.
Mas
relembrando este fato,
o
lenço do maragato
na
cruz ainda permanece.
Mas
é sempre um lenço novo,
novo,
rubro e colorado,
por
ser sempre renovado
o
ideal que nunca envelhece.