4ª CARRETEADA DA CANÇÃO E POESIA NATIVA
COCHO DE
SAL
Autor: José Hilário Retamozzo
Intérprete: Valdemar Camargo
Amadrinhador: Valdir Verona
É o ponto de reunião,
comício de messiânicas esperas,
necessidades fundas.
Todos buscam o sal.
Timbaúva estendida,
horizontal,
cada cocho reúne
maresias, ondas, maretadas
do mar que nem mesmo se presume
perto do pelado dos rodeios.
O grão de sal aproxima
fúrias do mar distante
- dominadas -
do mar de pastos verdes
das coxilhas,
este mar de galopes
que, súbito, estacou.
O céu que foi um tombo
de estrelas dentro d`água
também veio,
deixou mais liso o pêlo
desse gado,
fixou-lhe nas carnes e nas fibras
líquidos, minérios e sargaços,
algas e líquens,
prenúncios e promessas de energia.
A gordura da carne acende estrelas
e o churrasco,
distanciando das chamas desinquietas,
deixando-se entranhar
de céu e mar,
de terra, fogo e ar
reúne as forças cósmicas do grão de sal.
Dentro do grão de sal
inscrevem- se roteiros
de tropas gordas para os saladeiros
horizontes de ausência
pela estrada,
o sal dá falta da mulher e filhos
no desejo de volta do tropeiro.
E as noites e os dias de chuva e de sol
e o tranco ao mormaço
e as rondas e os rumos
- que tudo está inscrito
no mundo infinito
do cocho de sal.