Raízes

Jorge Lima

 

Na invernada da lembrança
Cortei o rastro da história
Risquei de espora a memória
Volteando a tropa do tempo
E me enfurnei noite a dentro
Num grande campo sem fim
Buscando a semente xucra
Para saber de onde eu vim.

Andei parando rodeio
Refazendo as trajetórias
Com derrotas e vitórias
Caramuru ou farroupilha
A pura cepa caudilha
Que nunca negaram o sangue
Mesclando a raça pampeana
Com guaranis e caingangues.

Cavalguei buscando o mapa
Da minha própria geografia
Fui me ver quando nascia
Índio xucro e abarbarado
E ao receber o legado
Que hoje é minha querência
Eu comecei a entender
O porque de minha existência.

Por ser tão xucra assim
Minha descendência gaudéria
Uns dizem que vim da Ibéria
Sou cruzado com beduíno
E neste pampa sulino
Raízes fundas finquei
Cruzando raças e sangue
Gaúcho me transformei.

Cortei mapa e fiz fronteira
A adaga e ponta de lança
Recebendo como herança
Esta minha terra sagrada
Que vêm sendo perpetuada
Pelos anais da existência
Rio Grande pátria gaúcha
Onde nasci e fiz querência.

Hoje aqui me encontro
Justificando meus atos
Se fui chimango ou maragato
A história já me julgou
E o cerne que aqui ficou
Coisa pura e de valor
Sustenta as cores pampeanas
Do pavilhão tricolor.