M A D R U G A D A
Jorge Lima
Cevei um mate gaúcho
Pra tomar com a madrugada
Que a lua cheia cansada
De rondar a noite fria
Encomendou a barra do dia
Para alumiar o galpão
E assim empeçar a lida
No meu oficio de peão
As labaredas do fogo
Fazem chorar a chaleira
E nesta orquestra campeira
Vai soluçando a água pura
Enquanto que a noite escura
Se despede no infinito
Com cara de sono o dia
Vai chegando a despacito.
Meu flete zaino pinhão
Na estrebaria dos fundos
Solta um relincho pro mundo
Enquanto remoe o milho
Que até parece o estribilho
De um verso flor de campeiro
E pelo instinto advinha
Que vai usar meus aperos.
O dia que chegou quieto
Derruba a noite num pialo
Parando o canto dos galos
E o alarido da cuscada
Mostrando a cara encarnada
De um sol que nascendo
inteiro
Levanta buscando as cores
Do meu rincão missioneiro
E a manhã se faz presente
Ganhando vida o galpão
Recostadas num tição
A cuia, bomba e a chaleira
Vão negaceando a boieira
Pra quando a noite voltar
E a lenha seca do angico
Não deixe o fogo apagar.
Assim começo meu dia
Nesta bendita querência
Sentindo na alma a essência
Da noite grande do pago
Reminiscências que eu trago
Com cheiro de camperiada
E o gosto doce da vida
Num mate de madrugada