ESSÊNCIA NATIVA
Jorge Lima
É um pajador
miguelino
Que traz o verso... essa essência
No meu sangue a descendência
Que não posso renegar
E este dom de cantar
Que acompanha o meu viver
Pois já era missioneiro
Muito antes de nascer.
Da pura seiva nativa
Trago a fibra de guerreiros
Dos padres e curandeiros
Herdei crença e orações
Dos pajadores
canções
Que canto por onde eu ande
Em reverência às Missões
Berço e raiz do Rio Grande.
Meu sangue ferve nas veias
Com esta ânsia repentina
E até me fere a retina
Quando volteio o passado
Revendo o santo legado
Que a própria história traduz
Da fé estampada na imagem
Dos quatro braços da cruz.
Até o silêncio se cala
Quando minha voz se levanta
Na inspiração de quem canta
Vou traduzindo aos senhores
O recital dos tenores
Quando a noite se ilumina
Contando histórias de guerra
Na velha igreja em ruínas.
Posso escutar o lamento
Do velho templo sagrado
E o grito desesperado
Que brota assim de repente
Num pedido pra sua gente
Que hoje vivem por aqui
Não matarem a identidade
Deste povo guarani.
E na dança primitiva
De luzes na noite escura
Vagueiam tristes figuras
Outrora donos da terra
E até as armas de guerra
De um povo que foi guardião
É plata
de simples troca
Por um pedaço de pão.
Por isso canto senhores
E sei que não posso parar
Se o meu destino é cantar
Me sustento na coragem
Faço do verso a mensagem
De um povo, de uma nação
Porque na cruza das raças
O guarani é nosso irmão.