C A N T O X U C R O
JORGE LIMA
Da xucra essência pampeana
Que carrego no meu peito
Brota o verso deste jeito
Neste estilo galponeiro
Com voz de tropa e
tropeiro
Nas rondas de campo largo
Pastorejando o sereno
Nas madrugadas do pago.
O meu canto abarbarado
Curtido a calor e frio
Mesclado de campo e rio
Campanha, missões, fronteira
Segue o rastro da boieira
Pingo encilhado e se vai
Pra bailar nas pulperias
Nas barrancas do Uruguai.
Meu canto canta as Missões
Igreja e cruz de Lorena
É espora de índio pavena
Enforquilhado nos bastos
Têm cheiro de terra e pasto
Potro xucro e redomão
E de oito
baixo chorando
Junto ao fogo do galpão.
Meu canto fala em mangueira
Em rodeio e marcação
Espora, laço e cinchão
Ginete e índio campeiro
É trova, gaita e gaiteiro
Nos fandangos do rincão
Onde o verso faz costado
Pra um floreio de violão.
No entrevero das raças
Nesta mistura de sangues
Meu canto xucro se expande
Por toda nossa querência
E na estrada da existência
Esta minha idéia não mude
Que eu possa trançar os
versos
Lonqueados na juventude.
Por fim meu canto é mensagem
Aos mais velhos, pra mocidade
e crianças
Será recuerdo
e herança
Quando me for pro além
E talvez seja também
Declamado em algum galpão
Junto ao fogão fraterno
Da gaúcha tradição.