Posteiro
dos Horizontes
Jorge Luiz da Rosa chaves
Nos sinuêlos
risos das luzes do outubro,
Quero ser ponteiro a tosar clinudos
Com flecos
de aurora...
Aparar cascos pelas sombras
tenras
Sob o sol tranqueando
pro meio do céu
Abrindo as porteiras pro verão
tordilho...
Formar a manada de mão com o buçal
Num “para-te quieto! que amanhã te encilho”;
Boleando as coscas do inverno bravio
Rasquetear beiçudos pelechando
o frio...
Manguear pra lida
E cedito
apertar as garras...
Tenteando na cincha quando o
lombo incha...
Pulam ovelheiros, amigos fiéis
Que pelo salário da bóia nas
horas cruéis
Valem por campeiros, volteando faceiros os refugadores
Sem pealar
um tombo...
A terneirada
nova berra e se retrai...
No mistério dos passos
costeiam as sangas...
Não amadrinho o vento pra assolear a toa...
E hay
que estar atento com as vacas de cria,
Passar em revista no clarear
do dia...
Estas pançudas requerem jeito
e cuidado;
Na mangueira a calma sujeita
o aparte...
Evito o alarde,
As trompadas
na barriga;
Coreiam prejuízos com as mal-paridas...
Vou curar umbigos com untos
sagrados,
Virar algum rastro da pata
canhota
Pra sarar feridas de bruto
criado...
Sempre se acha peçunhas pra cinchar
E as
vezes quantas!
Que entalam birrentas com
ventas nas ancas;
E já é florão de truco se não
há uma morte
Na guerra dos fortes...
Novilhas enjeitam e vale a
paciência...
Sempre tem alguma parideira pra esgotar
E um mamãozito
pra enxertar...
Um verão
bem farto salva, engorda e cria...
É vida abundante nesta
geografia.
Se avizinha o final da produção
E nascendo vão os culatreiros
Pros “cucharreiros”
na vindoura marcação...
Quero ser o primeiro a lavar
a xerga
Num banho a
tardinha na curva d’areia...
Não piso o meu flete encilhado a capricho,
Pois num ressojo
afloxo os arreios...
Mas há queixudos tão maleva
Que o mais pavena dos bichos!...
As cordas do inverno precisam
de um trato;
E por certo já foi maceteado
O cebo
da ultima carneada
Que debruçou a baia
No sangrador da primavera,
Tingindo de luto o pasto da
frente
Fazendo as tambeiras chorar feito gente...
Reviso meus tentos, as
presilhas,
Os loros pros repentes...
Viro os láticos de ponta só
pra emparelhar;
Espicho o meu laço e de relho
cambeio...
Estaqueio o
primeiro meia-cera pros arreios
Que bem sovado boto sobre os
basto
Do qual não afasto inté amaciar...
No cabeça inteira de crina picada que juntei com zelo,
Se contar direito tem de todo
pelo...
E se gasta o tempo em braças
de horas,
De campo,mangueira,costeio
e galpão...
De sova e de trato com jeito
ou tirão;
Campereando a vida na grande invernada,
Serviço e estrada ajeitam o
baldoso
Maneia e cachimbo governa o teimoso...
Assim é a existência, difícil
tropeada,
Cheia de embaraços, mas há
sempre um lado
Pra se tirar um desengano
Pra se chegar num pingo manso
ou num bagual
Num gado xucro, boi de canga
ou num Hermano.
Se busca sempre a volta certa
Apertando ou dando folga pra
não acalambrar;
As senhas do tempo hay que decorar
Pra reger um pedaço de vida
de campo
Com a bota no estrivo e os olhos atentos
Conhecendo a hora de se emponchar...