NO TEMPO DOS MEUS AVÓS
Jorge Luiz da Rosa Chaves
Um tirador cabeludo
bombacha, remento e pano.
Botas de garrão
de potros
Ou...Tamancos castelhanos.
Um pingo bem enfrenado
-Na minguante não faz dano!
no queixo d’um “criolito”
de pourear qualquer paisano.
Espora roseta miúda
pata aberta, bem pachola.
Um bigode retorcido
Fala, rude sem escola,
Chapéu queimado de “lidas”,
Lombilho de junco e sola
Lemço branco ou maragato
a soga arriba da cola.
Sebo novo reluzindo
nas garras de couro cru
E um jeitão meio entonado
numa estampa de xirú.
Uma adaga marca “esse”
pra defesa na cintura
mango trançado de oito
relíquia de formatura
da cartilha de índio macho
guaxo sem mãe desaforo
com naco de rapadura
e enxerto em teto de couro.
Nas veias sangue charrua
cruza oriental...,pêlo duro
“gringo
baio queixo roxo”
e o braço forte do negro
plantaram o nosso futuro.
Agarrava touro a unha
gineteava até por
graça
-Valeu o trago parceiro!
...uma guampa de cachaça
Saltava de pé no chão
madrugada campo fora
quebrando geadas medonhas...
daquelas de renguear cusco,
mangueando boi
redomão.
que amansava a qualquer custo.
Gastava pontas de arado
sem ressojo nem cansaço
apojo com milho verde
pra refrescar no mormaço.
...Acordava o sol batendo
nos cercados , ponta a ponta;
dia inteiro ou de três-quartos
pros queimado além da conta,
soltavam a boca da noite
quando a enxada fica torta.
Tranqueavam feijão na eira...
das cacimbas , água em pipas,
pilão baio de canjica,
porco gordo no chiqueiro...
torresmo, erva e açúcar
já deixavam a tuia rica
-Mate doce é das comadres!
homem que toma é marica...
Gastava os dentes da idade
á cinza e milho catete,
com jujos e benzeduras
corriam as doenças a porrete
Mascando fumo de rolo
castravam touro a macete.
Tropeavam léguas de
outonos...
cruzando enchentes patronas;
“Santa Rosa e São Miguel”
picando charque em caronas,
bravas mulheres gaúchas
pariam a espera nos ranchos
com fartura no paiol.
Ferviam as “pretas” nos
ganchos.
Quaravam nas sangas, os trapos
das manadas de guris
repontando gafanhotos...
manguevam alguma
perdiz
pros mundéus de seus retôços,
rondavam tropas de osso
brincando de ser feliz.
...Batata assada em borralho,
lixiguanas e
pitangas,
cassadas, banho de sanga,
farras...Pencas de petiço.
milho assado na fogueira
e em noites de sexta-feira
lobisomem e reboliço.
Carreteadas de semana...
domingueiras de selim;
pras moças com seus vestidos
mangericão do
jardim,
e á cada mês o “caixeiro”
com novidades e cetim.
Caçadas...e pescarias,
carreiras por rapadura
galinhadas e algum guaxo,
bailesitos...”chás
dançantes”
“surpresas
com a oito baixos”
Escondam queijo e ligüiças...
morram galinhas nos
tachos!
Meia noite tem”sequilhos”
Rapaz lá...Moças
pra cá...
cerimônias pão de ló
e um licor só pra esquentar!
na polca de relação
começavam a “namora”
E as velhas a vender
quitandas
pra mo de “filha apronta”
Dava festa de semana
quitutes; forno de barro,
vinha toda a visinhança
iam se multiplicando
casamentos de confiança
Estas
gerações pioneira
sem medir um sacrifício...
desbravavam essas fronteiras
prós netos que vinham após,
minh’alma chora
impaciente
ao ver hoje tanta gente
relegar nossos avós;
devemos tudo pra eles
que ao redemoniarem o pampa
...principiaram eles pra nós.