O guasca e o Trem
João Pantaleão G. Leite
Num recanto bem distante
Esquecido da cidade,
Um vivente na ansiedade
Resolveu laçar um trem;
Pensou e disse:
Lá na curva o laço espicho,
Se eu não laçar esse bicho,
Quero ser bicho também.
Estendeu o laço
E de vereda fez o pealo,
Segurou firme o cavalo
Para o trem não escapar;
Ele gritava
Arrastado trilho a fora,
Me salve Nossa Senhora...
Que o bicho quer me matar!
Se não fosse o Geremias
Maquinista precavido,
O Cuera tinha morrido
Sem deixar adeus ao mundo;
P’ra cidade
Foi ligeiro transportado,
Com o corpo todo quebrado
Mais feio que moribundo.
Passado o tempo
Recuperado do tombo,
Com marcas feias no lombo,
Que de lembrar dava medo;
Entrou sorrindo
Na bodega do Bastião,
Quando viu sobre o balcão,
Um trenzinho de brinquedo.
Prá que, tche...
Puxou do trinta
E logo fez pontaria,
Foi aquela correria
A velharada a gritar;
O xirú velho
Ao trenzinho disse de vez:
Não me esqueci de vocês
E o mal que teu pai me fez,
Hoje és tu quem vai pagar.
Deu cinco tiros
E o trenzinho estraçalhou,
Quando a patrulha chegou
Ele disse com bravura:
Esses bichinhos,
Se mata enquanto pequeno
Depois de grande é veneno
Nem bagual xucro segura.