LAGOA ENCANTADA

João Pantaleão Gonçalves Leite

 

Patrício peço licença

Para cantar minha terra,

Fica no alto da serra

Debaixo d’um céu de anil;

Seu nome, Lagoa Vermelha,

De uma raça pura e boa,

O feitiço dessa lagoa

Tem fama em todo o Brasil.

 

Porque é vermelha sua água?

Patrício você me entenda:

São contos, estória e lenda,

Duma tradição sem fim;

Mataram ali, sem piedade,

Um velho juiz de comarca

E a água lavou a marca

Que avermelhava o capim.

 

Quantos tesouros escondidos

Em seu segredo profundo,

Mistérios de outro mundo

Para prosas de galpão;

Há um trecho nesta lagoa

Que a água é bem escura,

Existe gente que jura

Ver ali assombração.

 

Deu glória para sua terra

E nome para batismo,

Inspiração e lirismo

Ao poeta do rincão;

Deu páginas de bravura

Ao livro de nossa história

De alguém que tombou com glória

Em defesa do seu chão.

 

Deu pouso para os tropeiros

Até o último biriva,

Conservando a chama viva

Dos tempos de gomercindo;

E como se torna linda

Beijando a brisa do asfalto!

Escrevendo com basalto

“Gaúcho seja bem vindo”.