ALMA NATIVA

João Pantaleão G. Leite

 

Nasci nos tempos de antanho

Mais livre que os quatro ventas,

Trazendo preza nos tentos

As chamas dos ideais;

Pois quando meus ancestrais

Junto a pira do civismo,

Me deram nome de batismo

Vacaria dos pinhas.

 

Sabem quem sou?

 

Sou heroína das lutas

Deste Rio Grande altaneiro,

Sou a voz do peão tropeiro

Na manobra da tropilha;

Sou a velha estirpe caudilha

Que glorifico e venero,

Sou grito do quero-quero

Ao entardecer da coxilha.

 

Sou nativista charrua

Emblema de tradição,

Sou o rude fogo de chão

E seiva do mate amargo;

Sou carinho, sou afago,

Herança de minha origem

Sou aroma da mata virgem

Nas madrugadas do pago.

 

Sou gaita de oito baixos

Sonorizando as coxilhas,

Sou cheiro de maçanilhas

Nas manhãs de primavera;

Sou a laçada do cuera

Em aspa de boi corneta,

Sou ringido de carreta

Transportando nova era.

 

Sabem quem sou?

 

Sou o mugido do gado

Soltado em mangueira aberta,

Sou o verso que desperta

Na exaltação da memória;

Sou marco feito de glória

Simbolizando a querência,

Sou a santa reverência

Na pregação da história.

 

Sou a linda barra do dia

Repontando o horizonte,

Sou água fresca da fonte

Que o guasca bebe com asco;

Sou o sabor do churrasco

Inspiração do poeta,

Sou potro em cancha reta

Com muita sobra de casco.

 

Sou o latido do tempo

Fazendo eco nos campos,

Sou a luz dos pirilampos

Enfeitando a natureza;

Sou virtude, sou proeza,

Duma raça precavida,

Sou terra desenvolvida

Na semeação da riqueza.

 

Sabem que sou?

 

Sou um braço do gigante

Acenando ao universo,

Sou a cancha do progresso

Rumo á nova geração;

Sou machado, sou facão,

De um país que foi colônia

E fui rasgar na Amazônia

A estrada da integração.

 

Sou rodeio dos rodeios

Orgulho dos filhos meus,

Sou abençoado por Deus

Por onde meu nome ande;

Sabem quem sou?

Sou terra que fama expande

No raiar de cada dia,

Sou a brava Vacaria

A Porteira do Rio Grade.