RECULUTA DE VERSOS

(Poema classificado em 3º Lugar na 2º Querência da Poesia Xucra

                                                      João Marin

 

Matear ao pé do fogo divaga nossos pensares,

E nestas horas que a gente dá asas pro pensamento…

 

O meu, engarupou-se no vento, q’adentrou pelo meu rancho.

Liberto, ganhou o mundo , com uma finalidade,

Reculutar versos tantos prá formar  m’a manada…

Foi assim, quase num upa, nem sequer se despediu.

Lembro a mala de garupa, num resto desta visão,

Poeira tapando a estrada, e a batida d’um portão. .

 

Apartados num piquete, da mangueira de papel,

Vou fazer a seleção dos velhos, xucros, ventenas

Faço, da caneta o meu ginete, dando jeito nos” veneta”,

Pensamento feito esporas, falquejo aqueles mais xucros…

Os mais velhos, já polidos, serão padrinhos do tema,

Desta tropilha de versos, q’eu hei de chamar poema…

 

Por de sol, e fim de tarde, chega a lua pro seu turno.

Feito duas sentinelas, cambiando a guarda na estância,

Fizeram-se meus parceiros, compartilhando esta ânsia…

Passaram horas, os dias, também passaram-se meses,

Até me “olvido” se as vezes foi uma ou mais invernias…

 

Fiquei assim, chimarreando nos fins de dias, infindos,

Até que um dia, sorrindo, se achegou sem muito alarde,

Retornou prá sua essência, numa calada de tarde…

Polegadas de sorriso, que não se cabe entre orelha,

E, uma mala de garupa, qual fase de lua, ( CHEIA )…

 

 Contou-me tudo o que viu e “cousas” que não quisera:

Vi ranchos feitos tapera, rios bebendo pesticidas,

O campo já revoltado pelo arado da agroindústria,

Olhares  de pura angustia fotografando a verdade…

Engordando as romarias, de esperanças alijadas,

(Se equilibra no vazio, peão rumando prá o nada…)

 

Vi ranchos enfileirados  d’outro lado do aramado,

Esperando seu bocado d’uma terra prometida…

 

Ouvi lamúrios de piás, num fundo de beco, escuro,

Sonho de pai resumido num rancho de papelão,

E o choro parido, sêco, num desepero de mãe,

Desejo de dizer sim, mas a língua trai num ( NÃO )…

 

Vi comício a bola pé, candidatos discursando,

E a mentira atropelando ideais de boa fé…

Quem dera todas as falas viessem a ser cumpridas,

E os candidatos fizessem valer a velha premissa:

Mais vale uma boa ação, que a palavra proferida…

 

Cheguei a me perguntar  se aquilo seria sina,

Numa diferenca bruta, que eu vi pelas favelas,

Onde ruelas teatinas, fazem vezes de latrina,

Num esgoto a céu aberto, crianças chafurdam lodo,

E um povo sem instrução, acaba achando normal,

Pois nem sequer tem ciência, d’um tal programa social…

 

Vi, na alta sociedade, o homem saciar ângustias,

Numa carreira assistida d’um modo bem diferente:

Não carece partidor, linha de chegada? Qual…

Onde as raias, numa mesa, alinhavam potros brancos,

Distribuidos em fileiras sobre o tampo de cristal !!!

 

 

Vi, a natureza em protesto, gritando na voz dos bichos,

E o farfalhar do arvoredo, quase mudo, agonizando,

Pois, ronco de moto-serra jaz os mesmos, propiciando,

Que a conta de uns e outros, vá aos poucos engordando. . .

 

Mas nem tudo foi tristeza. Colhi na volta a certeza

Das sementes bem plantadas. Mãos amigas me alcançando

Um  mate quente a preceito e um carreteiro à campeira, Cozido daquele jeito…

 

Agora com seu permisso, preciso rever encilhas,

Guarnecer, lá no bolicho, minha mala de garupa,

Pois, ganho a estrada num upa, tão logo espreguice o sol.

 

Vou, dar de beber pr’essa tropa: esperança, novos dias…

Vou transformá-la num ato, onde vozes fazem vezes,

São bem mais q’um simples fato, mais que palavras vazias…

Semeadas das tribunas deixam de ser utopias,

Prá se tornarem então, sementes de opinião,

Nos recitais de poesias…