FLOR DE LIZ!!!
3º Lugar na Tropeada do verso Sulino – 2º Ronda – Forqueta
- RS
João Marin e Sebastião Correa
Quando o sol vai repontado
Pela lua no horizonte...
Na sombra d’um tarumã,
Me bombeiam d’outro lado
Teus olhos de picumã,
Quando a cuia, já
cevada,
Nas tuas
mãos enlaçada
Vem na minha direção...
Esses teus lábios carnudos,
Que emolduram teu
sorriso
Fazem os meus jazerem
mudos...
Abro as cancelas da mente
Num pensamento incontido,
Quando teu cheiro trigueiro
Feito flor de cortiçeira,
Me chega d’uma maneira
Confundindo meu sentido...
Quando estendo minha mão,
Indo ao encontro da tua,
Eu vejo o sol e a lua
Na cuia de chimarrão.
Ao toque dos nossos dedos
Esqueço todos meus medos
E desvendo teus segredos
Ao ouvir teu coração.
Teus olhos falam por ti.
E ao falarem dizem coisas
Tão bonitas... Tão bonitas...
Tuas pupilas aflitas
Entreabrem-se, ligeiras,
Eu as sinto feiticeiras
Me
envolvendo, sorrateiras,
Seduzindo meu olhar.
Mateamos enamorados...
...É mais um final de tarde.
No pinheiro, em frente ao rancho,
As curucacas
em alarde
Festejam a primavera
Que mal acaba de entrar,
Prenunciando ninho novo
E rebentos prá chegar.
Na coxilha o touro berra
E escarva
a terra vermelha.
A natureza é centelha
Que acende a vida na pampa;
Roupagem nova e a estampa
De quem vestiu-se
prá festa,
Os grilos afinam o canto
Prá o início da seresta.
O meu instinto de fêmea
Faz sentir-se em teu olfato,
E o teu
instinto despertas
Quando a mão se faz contato,
Se demorando no enlace
Da cuia, no vai-e-vem
Aquecendo-se também
Do calor que sobe à face.
Então me declaro tua,
Chinoca –Mulher gaúcha!
Confidente e companheira,
Amante, esposa, parceira,
Disposta a trazer ao mundo
Teus herdeiros deste trono,
Pois és
meu homem... Meu dono,
Nosso amor não tem fronteira.
No teu corpo Flor de Liz ,
Feito potro redomão
Me boleio sem destino...
Uma cama de campanha,
Candeeiro lusco fusco...
Silhuetas estampadas,
Ganham vida
espelhadas
Na parede do galpão...
Meu sonho, feito semente,
Fez estufa do teu ventre,
Dando formato de mundo
(Foi minguate
e foi crescente)
No fruto que gera agora.
Traz ânseios
pros meus dias,
Vida nova neste rancho
E mais luz na minha aurora.
Seguiremos, vida afora,
Felizes nesta jornada...
Um grito de quero-quero,
Apregoa ao
quatro ventos
Desde o campo até a cidade,
Que nosso amor, é
verdade,
E há de ficar por herança,
Neste fruto que é certeza
D'um nova
realidade!!!