Esse
meu jeito triste de ser.
Esses
meus olhos cansados
De
tanto estradear o destino
E
essa minha estampa,
De
pilchas desbotadas,
Foi
a vida que me deu.
Os
caminhos que trilhei sozinho
E
as picadas que abri a lo largo
Jamais
alguém há de apagar
Porque
foi buscando horizontes
Que
deixei no tempo
A
marca do meu próprio rastro.
Homens
e tempos mudaram
Pois,
o homem partiu
A
construir seu próprio mundo
Nas
asas de um tempo novo...
E
eu, que sou de hoje,
E
vivo num tempo velho
Talvez
seja por isso
Que
sempre mateio solito.
Madrugada...
A
cheia clareia os campos,
E
eu mateio em silêncio
Ao
pé de um foquito miche.
As
labaredas trançam
Uma
dança esquisita
E
os grilos alteram os cantos
Como
a acompanhar
O bailado
das chamas.
O
fumo é o mesmo.
A
palha igual.
E
entre os dedos trêmulos,
O
palheiro, que é parceiro do mate,
manheiro,
teima em ficar apagado
acendo novamente.
Não
mais que uma tragada,
E
volta a se apagar...
Então,
rumino reminiscências
E
volto aos tempos moços.
Aqueles
da voz em calmaria
Que
até o silêncio pausava em si
Pra
não desbotar
Da
voz de um payador,
Que
mesmo sem cantar,
Encantava
a noite.
Sim,
um rodeio de almas
Vem
lamber sal no mesmo cocho
E
bebem, em mim,
A
seiva da madrugada.
Mate
amargo
Cevado
por gotas de orvalho
Que
a noite chorou,
Quando
os tauras partiram,
Pra
nunca mais voltar.
Essas
são as raízes
Que
brotam e rebrotam
Em
minhas veias
Por
isso, não há quem arranque
A
essência de um campeiro
Forjado
pelos galpões,
Sovado
de catre e lombilho,
Domado
pelas rédeas do destino.
Curtiu
os sonhos
Na
solidão das estâncias.
Estátua
viva do tempo,
Sem
placas de homenagem,
Telúrica
paisagem.
Tronco
e raiz, campo e mato.
E
o eco de outras vozes
Sai
da garganta da noite
E
vai arrepiando o pêlo
Dos
andejos, que como eu,
Só
trazem nas malas
As
lembranças e a pele curtida
De
tanto estradear a esmo.
E
os quero-queros gritam.
E
os urutaus cantam tristes na noite longa,
E
as sangas correm mansas
Por
entre os campos.
E
os pirilampos formam nuvens de estrelas,
Entre
o céu e o chão...
- que pena que tudo isso
não passe de imaginação.
Então...
Corro
os olhos nas paredes negras do galpão
E
a cambona chia seca
Como
a prenunciar
O
silêncio eterno
Do
velho fogo de chão.
O
mate já esta lavado
E
sigo mateando
Ausência
do que se foi
E
do que eu era.
Do
alarido constante da estância,
Nas
vozes dos tauras
E
berros de potros do ontem,
Para
o silencio do hoje,
Que
na distancia
A
solidão fez tapera.
E ali estão as cordas de doma
Paralíticas
num gancho, penduradas.
E
aqui estão os mesmos braços de ferro,
Para
o machado e a enxada,
As
mesmas pernas que calçaram esporas
E
cortaram potros,
Íntimos
desenhos de um passado terrunho.
De
já hoje
Vejo
que nem o tempo
Me
distanciou da verdade
E
a caborteira saudade
Adormece
nas varas do peito.
E
os sonhos se entropilham
Para
gavionar esperanças
Que
arrebentaram maneias,
E
não se domaram.
Como
o galpão,
Que
a solidão envelheceu
No
silêncio dos anos,
E,
como as sangas,
Que
as secas secaram.
“Quando
lembro do que fui”.
É
assim que me vejo.
O
taura de ontem, para o hoje.
Apenas
um vulto
Entre
a fumaça que sobe
De
um triste fogo de chão.
Então
um quero-quero louco
Rasga
o silêncio da noite,
“Mas
este de verdade“
pois,
como eu
perdido
nas asas, do vento
que
o trouxeram para a cidade
campeia,
talvez, seu último pouso.
Há,
mas a noite é longa
Pra
quem mateia solito.
E
das vozes rudes,
Que
o tempo emudeceu,
Sucumbem
os murmúrios do vento
Que
geme no alambrado
E
um taura mateia em silêncio,
Como
num ultimo adeus,
Mudo
e profundo.
E
esta pode ser a ultima imagem
Que
a natureza galponeira bordou.
As
verdades, que passaram a ser causos,
E
os causos, que agora, são verdades
Retratos
da evolução
Que
este guapo não acompanhou.
E
quando ele se for
há
de ser
O
último moirão de pau ferro
Que
os alambrados da essência tinha
E
aos campeiros,
E
a nós, que somos trama desse alambrado,
Resta
a trilhar os novos sonhos
Ou
esperar que o tempo nos leve.
Então
vou alçar a perna
Para
o último mate
Pois,
quero morrer
Como
as paredes do galpão
Que
o tempo
Vai
transformando o tijolo em pó
Pois,
não sei,
Se
tudo que me resta
Não
passa de sonho
De
um campeiro só.