DOMADOR

 João Carlos Fontoura

Fiz maneador de anqueira,

rédeas fortes e buçais,

pra amanunciar um bagual

nos cuxilhões do meu pago.

Assim enfrentei o destino

gaudério desde menino

na sina de índio vago.

 

Não sou mais, nem sou menos.

Suio, na estampa, um ser humano

desmamado em sobre ano.

Criado sobre os arreios,

nimguém me toca ou reponta.

E, aprendi a fazer contas

somando gados alheios.

 

No corredor da esperança,

me fiz tropeiro sem tropa,

domador sem tropilha.

Marcando minha própria trilha,

fui tapeando a solidão

e, as botas de garrão,

que sobram no cavalete,

são relíquias pra esse ginete

domador de ilusão.

 

De volta desta tropeada,

vinha estropeado o coração

somente as cordas na mão,

me mostravam a verdade

que a ilusão não se domava

e eu é que as cabresteava

pelas rédeas da saudade.

 

De tanto encurtar estradas,

os olhos, castanhos delgados,

sobre o lenço colorado.

A barba branca debruçada,

caricatura marcada

pelos serenos do pranto

que a saudade desata.

E, quando a voz se destapa

desta garganta empoerada,

que nem o tempo desbota,

vai emporrando tropas

ao largo das madrugadas.

 

Era boi...

Pára cavalo...

Se entreveram nesse momento...

Ah!...Ah!... Velhos tempos!

Tropas e gineteadas.

Ecos da vida passada,

que vai bordando a memória.

De quem escreve a próprioa história,

riscando a cinza apagada.

 

Reflexão, tropas. potros e tentos.

Num alce ao firmamento,

chegam as velhas recordações,

e vão se amanunciando ilusões

com as cordas do pensamento.

 

De já hoje, entendo,

porque a gente se vai,

e ficam os restos mortais,

que a enchente

de sonhos arrancou,

porque a vida emoldurou

um domador na própria estampa,

os sinais de cusco e pampa,

no tirador que o próprio tempo sovou,

uma esperança que brotou,

na ilusão de um sonho menino

pelas lembranças do passado

eu sinto que fui domado,

pelo meu próprio destino.

 

Agora, resta as cordas arrebentadas,

de cada esperança morta.

Na sanga da artéria aorta

busquei a origem das fontes,

Não vi água nem horizontes,

no rio de meus ancestrais,

encontrei as pedras nuas

no leito do nunca mais.

 

Fiz maneador e rédeas fortes

pra domar o potro ilusão.

E palanquiei a esoperança

no tronco do coração,

mas meu destino ficou aporreado

e eu, de rédeas na mão.