UM POUCO QUE SOU
João Benito Soares
Desde o dia em que nasci
Ganhei uma herança Farrapa
Da nossa querência farta
Sou a cuia de chimarrão
Eu sou o fogo de chão,
Sou esperança, sou fé
Eu sou o grito de Sepé
De lança firme na mão.
Eu sou o peão mandalete
Que leva ordem e que traz
Sou calmaria, sou paz
Também sou taura forte
Sou carreta de transporte
Que cruzou campos e matos
Sou gaúcho dos mais natos
Que brigou até com a morte.
Eu sou tropeiro andarilho
Que tropeou pelo Rio Grande
Sou bravura que se expande
Que neste meu peito brota
Sou o barulho da rota
Numa vaneira
marcada
Sou grito da peonada
Ao ver estourar uma tropa.
Eu sou o churrasco gordo
Que pinga em cima da brasa
Sou truco que a cada vasa
Sempre está pintando flor
Sou puaço
de trovador.
Eu sou água da colina.
Sou o pedido da china
Não vai embora meu amor!
Sou uma cordeona
que chora
Num rancho ou numa ramada
Eu sou o tinido da adaga
No topo de uma coxilha
Sou sinuelo
da tropilha
Que enfrentou muita peleia
Mas trago nas minhas veias
Uma herança Farroupilha.
Eu sou filho do Rio Grande
E neto de Encruzilhada
Sou peão que topei parada
Pelo Rio Grande sem luxo
Mas eu sou o sangue gaúcho
Que em qualquer pago que ande
Pra defender o Rio Grande
Morro queimando cartucho.