ÚLTIMA CAMPEREADA

João Benito Soares

 

Me lembro como agora

Eu era ainda piazito

E me criando aos pouquitos

Mas no coração uma dor

Sentindo aquele amor

Que em meu peito doía

Esperando a cada dia

Pra ganhar aquela flor.

 

Chinoca muito singela

Igual água de cascata.

Tinha o aroma da mata

Como o perfume que usava.

Quando por mim ela passava

Era linda aquela flor

Cada dia nosso amor

Aumentava...aumentava...

 

Quando foi um certo dia

Não agüentando esta dor

Falei que sentia amor.

Seu lindo corpo, abracei.

O que sentia, contei,

Em seus lábios dei um beijo,

Que lhe amava confessei.

 

Passaram dias e meses

Os anos passaram também

Quando eu não via o meu bem,

Os dias passavam tristes,

Lembro que a ela eu disse

Numa festa na fazenda

Pedi para aquela prenda

Que comigo ela fugisse.

 

Ela pensou mais de um mês,

E a resposta me deu,

Aceitou o convite meu

Somente por me amar

Me abraçou, e pegou a chorar.

Disse: eu explico pra ti,

Se o meu pai descobrir

Ele pode nos matar.

 

Não importa o que aconteça

Por ti mato ou perco a vida

O que interessa querida

É que tu me ames de verdade

Pra nós termos felicidade

Venha morar no meu rancho

Nossas vidas terão descanso,

Também acaba a saudade.

 

Marcamos o dia e a hora

A prenda, eu fui buscar,

Meu pingo, fui encilhar,

Tirei os aperos do gancho

E num trote de carancho

Fui saindo de upa e upa.

Botei a prenda na garupa

E rumei para o meu rancho.

 

Galopando em meu cavalo

Eu fazia muitos planos,

A vida tem desenganos:

Existe o azar e a sorte,

Quando eu fazia o transporte

Daquela linda sereia,

Numa planchada mui feia

Senti o arrepio da morte.

 

Eu quebrei o braço e a perna

Naquela triste rodada

E a minha prenda coitada,

Sem levantar a pobrezinha

Quando contou o que tinha

Meu coração quase parou,

Mui triste ela falou:

Quedo: quebrei a espinha.

 

Foi triste ver a chinoca

Mulher que dei meu amor

Sofrendo aquela dor

E eu sem poder curar

Muito triste a chorar

Dizia aquela mulher:

Pode dar as voltas que der

Não deixarei de te amar.


 

 

Sem solução pro  problema

Eu sofri desconsolado

Sendo eu o grande culpado

De tudo que aconteceu

Nas voltas que o mundo deu

Passaram dias e semanas

A prendinha aragana

Num triste dia morreu.

 

Daquele dia em diante

Senti que morri também

Com a prenda do meu bem.

Foi triste o meu abalo

No meu coração tem calo

Que a cada dia me atrasa

Nunca mais saí de casa

Nem mais montei a cavalo.

 

Por causa daquela tragédia

Meu viver não tem sentido

O que eu tenho sofrido

Para evitar esta dor.

Eu sou um jardim sem flor

Minha vida não vale nada

Foi minha última camperiada

Na cancha reta do amor.