RECUERDOS DO GALPÃO VELHO
João Benito Soares
Parceiro, chega sem pressa
Neste galpão de campanha
E toma um trago de canha
Te conto Tim por Tim Tim
É uma noitada sem fim
Causos de arrepiar o pêlo
Pra quem não sabe o modelo
É mais ou menos assim.
Neste galpão bem ao centro
É o velho fogo de chão
Ao redor sentado, o peão,
Num cepo velho pesado
Um mate bem espumado
Com gosto de sabugueiro
E lá no gancho o apero
Prontito pra ser usado.
A gauchada pilchada
De alpargata e bombacha
Vai tomando uma cachaça
Misturada com limão
Lhes digo, isso é tradição
Escutar causos contados
Dos velhos tempos passados
Que existia assombração.
Olha o rodado de carreta
No gancho se balançando
O churrasco vai assando
Tudo aquilo é alegria
Lhes digo que a cada dia
Aí cresce a tradição
No repente chega um peão
Pra declamar uma poesia.
Ouve-se um grito de aler5ta
E o capataz da fazenda
Arruma umas vinte prendas
E o fandango está formado
Dançando de par trocado
Ao redor do fogo de brasa
E o peão velho da casa
Molha o chão empoeirado.
É este galpão, parceiro
Do tempo de antigamente
Que marcou a minha mente.
Claro que eu tinha razão
Nunca soube explicar não
Que um dia saí sozinho
E cruzei outros caminhos
E aí te deixei,
galpão.
Passados uns pares de anos
Ouvindo outras mensagens
No meio da magrinhagem
Minha tradição não mudava
E parece que apertava
Esta malvada saudade
Um dia deixei a cidade
E fui ver como estava.
Olhei de longe o local
Onde era o galpão
Senti que meu coração
Bateu forte e compassado
Hoje, eu velho e cansado
No espelho me olhei
Claro que também mudei
Mas tu também estás mudado.
Naquela cumeeira grande
De capim-
taquara e tento
Hoje jogada ao relento
O cipó formou uma trança
E ficou pra mim de herança
A quincha
de santa-fé
E um esteio cerne de epê
Que eu guardei de lembrança.
Não existia a fazenda
Que fiquei quando criança
Dividiu tudo em herança
Hoje mais nada existe
Meu coração não resiste
Ao lembrar como tu era
Somente ficou a tapera
E um Umbu velho triste.
Hoje eu velho e cansado
Parece que a idéia gira
As vezes penso, é mentira,
Que tu existe, galpão,
E sinto uma recordação
De um passado contente
Que atrapalha a mente
Deste verdadeiro peão.