NEGRINHO DO PASTOREIO

 João Benito Soares

 

Eu vi um negrinho criado

No tempo da escravidão.

Foi mandalete do patrão

Em muitas frias madrugadas

O pampa branco de geada

Ele estava dando pealos

Pra repontar os cavalos

E trazer na hora marcada.

 

Ele foi jóquei do patrão

Em carreiras que valia

Uma das maiores quantias

Sempre ele que joqueava,

Claro que bem se apresentava

Embora o negro entendesse

Se uma carreira perdesse

O tal patrão lhe matava.

 

Pois foi correr a carreira

Um pouquito desconfiado

Porque o patrão era malvado

Muita gente lhe falou

Quando a bandeira baixou

Seu cavalo saiu mal

E a égua do Juvenal

A tal carreira ganhou.

 

Quando ele voltou da corrida

Falou o patrão justiceiro:

Vou te botar num formigueiro

E te deixar a noite inteira

É sério, não é brincadeira,

O que estou a te dizer

Só assim vai aprender

Como se perde carreira.

 

Pois o botou num formigueiro

E deu várias chicotadas,

Partiu dando risada

E ligeiro foi embora

Já fazia muitas horas,

Quando ele, lá voltou,

O negro não encontrou

Somente Nossa Senhora.

 

Quando o homem viu aquilo

Na mesma hora adoeceu

Dias depois ele morreu

Vejam que papel feio

Se falta um boi no rodeio

Ou de paradeiro muda

Eu sempre peço ajuda

Ao negrinho do Pastoreio.