DO NADA TORNEI O TUDO
Autor: João Benito Soares
Se olhares o meu presente
Não dirás o meu passado
Eu fui um piá desprezado
Sinto vergonha em falar,
Nem gosto de me lembrar,
Tudo que me aconteceu
Pois o meu pai morreu
Bem antes de eu me criar.
Como eu era filho único
Eu saí por este mundo
Mas não me tornei vagabundo
Por uma boa intenção
Passei grande solidão
Por este mundo rolando
E assim fui me criando
Vivendo sempre em galpão.
Nessa minha caminhada
Em muitos lugares andei
Mas foi que um dia encontrei
Alguém que me apoiou,
Homem que me ajudou
Mudando meu pensamento
Confiou no meu talento
Minha estrada iluminou.
Me ensinou a lida campeira
Como se aprende um pealo,
A não cair do cavalo
Mesmo sendo um redomão.
A preparar um chimarrão
Tudo ele me ensinou
Pois em mim ele formou
Um culto de tradição.
Me deu pilchas de gaúcho,
Me ensinou dizer poesia
Pois antes de clarear o dia
Eu fazia o fogo no galpão,
Até que um dia o patrão
Num concurso me assinou,
Deus muito me ajudou
Nesse dia eu fui campeão.
Nesse tempo tinha dez anos
Pois era ainda um guri
De tudo, um pouco, aprendi
A vida que me obrigava
Aos poucos tudo mudava
Alguma melhora vem
Pois fui me saindo bem
Onde eu participava.
Daquele dia em diante
A vida começou a melhorar,
Me levaram pra cantar
Em pagos desconhecidos
Lá eu fui muito aplaudido
O povo inteiro bateu palma
Alegrou minha triste alma
O passado ficou esquecido.
As coisas para este peão
Cada dia melhorava
Nos lugares que eu cantava
Muitos aplausos, ganhei,
Num festival que disputei
Tive bons comentários
Aí surgiu um empresário
O primeiro
disco gravei.
O disco foi um sucesso
Pois vendi á revelia
Isso me causou alegria
Fui destaque nas paradas
Assim foi minha jornada
Na verdade eu fui peitudo
Hoje eu sou quase tudo
Mas eu já fui quase nada.