CHINOCA BUENA

 João Benito Soares

 

Eu tinha uns vinte anos

Era um peão aragano

De casar, não tinha planos,

Eu sempre fui desconfiado

A tempo se ouvia o ditado

Desde que eu era piazito

É melhor viver solito

Do que mal acompanhado.

 

Foram-se passando os anos

E eu fui mudando também.

Mas um dia eu vi um alguém

Que minha atenção chamou

Quando ela por mim passou

Quase perdi o compasso,

Senti que aquele laço

O meu coração pealou.

 

Chinoca muito bonita

Que o peão olha e respeita

É de família direita

Falaram na vizinhança

Era lindaça e de herança

Das prendas era sinuelo

Tinha bonitos cabelos

Negras e compridas tranças.

 

Depois de algum namoro

Com aquela prenda bela

Resolvi casar com ela

Com o padre fui falar

Aquele olhar cor de mar

Esperto que nem carancho

Um dia me pediu um rancho

Para nós juntos morar.

 

Um ranchito de santa-fé

Bem pertinho da cascata

Tinha o perfume da mata

E uma grande amizade

Dona da felicidade

Apesar de pouca renda

Juntinho com aquela prenda

Bem distante da cidade.

 

Nós tínhamos uma vida calma

Naquela simples morada

Acordávamos de madrugada

Com o cantar dos passarinhos

Parecíamos dois pombinhos

A vida que a gente tinha

Aquela simples casinha

Trocamos muitos carinhos.

 

Já se passaram dois anos

Uma notícia ela me deu

Que esperava um filho meu

A mais de quarenta dias

Que aquela criança crescia

Ah! Como eu achei bonito

Até que nasceu um piazito

Que me encheu de alegria.

 

Hoje eu tenho uma família

Coisa que eu tanto quis,

Sou um gaúcho feliz

Junto com aquela donzela,

Lhes digo chinoca bela

E quando chega os domingos

E eu que encilho o pingo

Pra nós rezarmos na capela.