Sussurros de Liberdade

 

João Batista de Oliveira


Já não ouço os ruídos...

Que rasgavam meus ouvidos

Ensurdecendo minha alma...

 

Manhã de setembro,

Grilhões enferrujados, senzalas taperas,

Armas em sinfonia, homens reculutados

Pra defender esta terra pela sua alforria.

O sol despontava em - regalo do dia -

Compartilhando a alegria e o gosto da liberdade.

Esperança de dignidade deixando de ser fantasia.

 

Então o sonho criou asas para voar livremente...

Germinando, enfim, a semente de horizontes mais claros...!

O vento soprando, o pensamento voando...

As lágrimas saciando a sede das retinas

E colorindo o olhar o verdor das campinas

 

Culatreando a coluna, ficou p´ra trás a estância e,

Aquela vida sebruna de sonhos aprisionados...

...o tronco ficou calado, pra morrer de solidão!

De escravo a soldado...

Orgulho no peito estufado

E de rédeas e lança na mão.

 

O clarim ecoou longo modificando a coluna!

De culatreiro passou a ponteiro...

O pelotão de lanceiros para empeçar a peleia...

- faz parte da natureza defender-se dos perigos

Por isso que os inimigos descobriram, neste dia,

Que quando o pêlo arrepia e soltando fumaça das ventas

Não há força que sustenta o sabor da alforria -

Despejou-se o entrevero, tinidos de adaga e lança

Marcavam a contradança com destreza, ódio e coragem

Dos que bailavam com a morte, maragateando a paisagem...

Assim passaram-se os anos... Batalhas e mais batalhas!

A morte a estender mortalhas em cada novo entreveiro

E o pelotão de lanceiros - imponentes e irmanados no ideal-

Conservando a fibra ancestral de nobres e bravos guerreiros.

 

Antigos negros cativos, soldados de pelotão

De rédeas e lança na mão lutando por igualdade

Para abolir da sociedade as chagas da escravidão...

...quase dez anos de luta tiveram, enfim, seu final.

Quando veio a ordem banal de entregar o cartuchame,

Ordem tão vil e infame quanto o talzito general.

 

A noite velava em silêncio, o sono do acampamento...

Foi então que o argumento de desarmar o pelotão

Traduziu a última traição ao altivo negro cativo

O pelotão inimigo achegou-se com força total!

Nem a fibra ancestral de nobres e bravos guerreiros

Defendeu os pobres lanceiros do balaço fatal!

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E hoje já não ouço os ruídos...

Que rasgavam meus ouvidos

Ensurdecendo minha alma.

Mas, não se acalma o coração

A luta tem sentido...

E renasço das cinzas altivo...

Como o –marco- de uma geração.

 

Pois, quem sabe,

O tempo corroa os grilhões da injustiça

Saboreando a real conquista...

E recolute as glórias desta senzala da vida,

Amenizando antigas feridas...

Dos açoites da história!