SONHO DE PIÁ
João Batista
Oliveira de Lima
Nasci em fundo de campo,
Filho de pobre campeiro.
Piazito alegre faceiro,
Desde cedito levado,
Mas correto, dedicado,
Nas lides era primeiro.
Meus pais trabalhavam muito
Pra manter nosso sustento
E, eu criado ao relento
Mas sadio e trabalhador,
Desde cedo já pensava
Ao ouvir o palavreado
Do moço mais estudado,
Eu sonhava ser doutor.
A vida traça caminhos
Cada um segue o seu,
E um piazitocomo eu,
Já tinha o meu traçado
Ligava o rádio animado
Só pra ouvir o homem falar
E começava a estudar.
Porque eu queria ser doutor.
Quando completei idade,
Fui correndo para escola,
Com cartapaço ou sacola
Entendam como quizer,
Faço tudo o que disser
Obedecia a professora
Ainda mais me aplicava
Porque eu queria ser doutor.
Passou os anos num upa
Era isto que eu queria,
Chegar no final um dia
Da escolinha do interior.
Ter que vir para cidade
Ver se tornar realidade
Meu sonho de ser doutor.
Já no meu primeiro ano
Do tal colégio moderno
Me mandaram comprar terno
Minhas roupas já não serviam
Minhas bombachas novinhas
Eu tive que pendurar,
Pois não podia estudar
Com aquele vestimento.
Que me causou tanta dor.
Mas vale apenas aceitar,
Porque eu queria ser doutor.
E o piazito companheiro
Se aplicava de verdade
Mostrava capacidade, inteligência e ordeiro
Pois sempre bem colocado
E continuava pensando...
Às vezes dormia sonhando,
Mas valia a pena, pensava
Pois tudo passava
E bem mais perto chegava,
Do sonho de ser doutor,
Mas o cerco foi fechando
E o piazito foi notando
Aumentar a dificuldade,
Conhecendo a realidade
Do mundo em que vivia
Viu o diploma ser comprado,
E o estudante aplicado
Não passar no final do ano.
Aos poucos viu o engano
Como se pesa o valor
E viu fugindo aos poucos
O sonho de ser doutor.
Numa porteira maior
Viu a triste realidade
Constatou que a sociedade
Que ele tanto acreditou,
Deu-lhe as costas e lhe mostrou
Sem Ter ao menos piedade
Que para o pobre a faculdade,
Não mais que um sonho passou.
E chorando triste o mocito
Olhou pro mestre Senhor,
E pela última vez pediu
Ainda quero ser doutor.
Sua mala já esfarrapada,
De andar pra cá e pra lá
Sua bombacha desbotada
Pois nunca mais tinha usado
Olhou pra dentro de si...
Constatou que a sociedade
É uma outra realiade
Não a que ele sonhou,
E botando o pé na estrada.
Seus valores reavaliou
Voltou pra sua querência,
Desistiu de ser doutor...