PETIÇO ROSILHO
João Batista de Oliveira Gomes
Deu bueno
mesmo de fato
Este petiço rosilho,
Que criei desde potrilho.
Às vezes ficava olhando
O meu petiço pastando,
Até me parava pachola
Quando ele escaramuçava,
E dava coices na cola.
O potrilho foi crescendo,
E eu fui acompanhando.
Ficava ali imaginando
Com bastante ansiedade,
Quando alcançar a idade
Puxo do queixo e encilho,
Nos primeiros galopes tiro
As cócegas deste rosilho.
E quando cerrou três anos,
O dia certo eu não lembro,
Por meados de novembro
O meu
petiço encilhei.
Procurei a volta, montei,
Corcoveando campo a fora.
Da paleta até a virilha
Deixei marcado de espora.
Se fomos naquela zoada,
E a coisa
feia fui vendo.
O meu petiço gemendo,
Mas logo ele se entregou.
O lombo, então frouxou
Tomei conta do potrilho.
Deixei as rédeas no chão
E de confiança, o rosilho.
No quarto ou quinto galope
O potro saiu tranqueando;
Eu faceiro assobiando
Gostando do contra passo,
Fui desatando o meu laço.
Lá no topo da coxilha
Pra o potro acostumar,
Eu lacei uma novilha.
Arrocinei como eu queria
De rédea, este meu flete.
Eu brigo de canivete,
Às vezes eu acho graça.
De uma mistura de raça,
Saiu esta maravilha
Cria de uma petiça velha,
E um puro quarto de milha.
No lombo do meu petiço
Pra mim não tem tempo feio.
Se balanço ele no freio,
Num aparte de mangueira.
Vira nas patas traseiras
Aparto a que foi escolhida,
Pois meu rosilho é ligeiro
E conhece mesmo esta lida.
Quantos prêmios e troféus
Com meu petiço ganhei,
Quantos
novilhos lacei,
Em cancha de pura areia.
Pois levei uma queda feia
Na cidade de Portão,
Meu petiço se perdeu
Cravando a cara no chão.
Foi a
rodada mais feia
Que até hoje eu levei,
As
clavículas quebrei
E fiquei desacordado.
O povo todo assustado.
Dizem que foi assim,
Quando o petiço rodou
Caiu por cima de mim.
Muita gente se assustou
Com o que tinha acontecido.
Acharam que eu tinha morrido
Naquela rodada brutal.
No caminho do hospital
É que eu fui acordando,
E ainda tonto perguntei,
Pra onde estão me levando.
Pois me pareceu um sonho
Ali naquela ambulância,
Se eu estava numa festança
O que eu estou fazendo aqui?
Foi então que eu ouvi,
Desta vez ele escapou.
Salvou-se por um milagre
Da rodada que levou.
Logo entrei num hospital
Naquele baita entrevero.
Me
examinaram primeiro
Depois veio o resultado,
Já saí todo enfaixado
Sem movimento nos braços.
E lá se foi uns quarenta dias
Sem poder jogar meu laço.
Um dia, o doutor me disse
Que eu já estava liberado,
Mas que tomasse cuidado
Ao montar algum cavalo.
E se caso for dar um pealo,
Calce no mais o garrão
Deitando o corpo pra trás
Pra agüentar firme o tirão.
Na conversa botei tenência
Mas me toquei no serviço,
Encilhei o meu petiço
Bem ligeirito num upa.
Meu doze
braças na garupa,
Porque o dever me chamava
Para maior festa campeira,
Que o estado realizava.
Botei o petiço na estrada,
Tapiei o chapéu na testa.
E quando cheguei na festa
A peonada estava laçando,
E já foram me chamando
Porque era a minha vez.
E o resultado que deu
Eu vou contar pra vocês.
Saltou do brete pra fora
Um zebu meio fumaço.
Eu fui esticando o braço
Abri pra esquerda o rosilho,
Peguei as guampas do novilho,
E eu que estava destrenado,
Fiquei entre os dez melhores
Laçadores do nosso Estado.