O ENCONTRO DO ASSIS E O DELEGADO

João Batista de Oliveira Gomes

 

Era domingo, dia de carreira

Na cancha reta da estância

Pois reuniu-se a vizinhança

E muita gente de fora,

Tinha um gaúcho arrastando a espora

E topando qualquer parada,

Nas patas de uma égua bragada

Que há tempo ele conhecia,

Tinha certeza que não perdia,

Para o potro preto afamado

Crioulo do estancieiro,

Pois todo mundo apostava

E até dobravam o dinheiro.

 

E o gaúcho foi topando

Toda a aposta que vinha,

Pois certeza ele tinha

Que forrava a cartucheira,

Esta bragada é ligeira

E hoje vai correr solita,

E foi no estouro da fita

E no grito de já se vieram,

Até parecia um mistério

A bragada vinha na frente

Correndo sem apanhar,

E já ouvi gente dizendo

Que não podia acreditar.

 

O alvoroço foi grande,

E maior o entrevero,

O gaúcho, foi levantando o dinheiro

E saindo meio entonado,

Não era muito assustado

E de carreira ele entendia,

Mas até parece que sabia

Que no final não dava certo,

Mas tinha ali bem perto

Um tal de Clodomiro

Com uma bodega de campanha,

Atirou o pala no ombro

E foi tomar um trago de canha.

 

E foi no segundo trago

De canha que ele tomava,

Quando na bodega entrava

Um índio mal encarado,

Pois era o delegado

Por Horácio conhecido,

Diz que mui quebra e atrevido

E já foi encarando o moço,

Gaúcho, de lenço colorado no pescoço

Que lá sob um canto estava

Solito, encostado no balcão,

De cabeça baixa pensando

Como poder se livrar da confusão.

 

Mas tem um velho ditado

Que todo mundo conhece

Quando o diabo não aparece

Sempre manda o secretário,

Que é muito mais ordinário

Desordeiro e estrabulega,

Pois foi ali, nesta bodega

É o que todo mundo diz,

Que o delegado e o Assis

Nem um dos dois era manso

E se toparam frente a frente,

Pois foi uma, duas e três

E já se formou o tempo quente.

 

O delegado se atracou

No Assis como uma fera,

Mas errou o bote no cuera

Que já saltou porta afora,

E no tilintar das esporas

Ele deu-lhe uma rasteira,

E o delegado, se perdeu na poeira

O que mais lhe incomodou,

E de sua arma sacou

E já saiu atirando

Sem rumo prá qualquer lado,

E o Assis dava risada

Do jeito do delegado.

 

Pois a coisa estava engraçada

Mas de repente ficou feia,

Foi engrossando a peleia

Do Assis e o tal de Horácio,

Numa troca de balaços

De um tiroteio cerrado,

Nenhum queria ser derrotado

Naquele encontro maldito,

Brigavam quietos, sem nenhum grito

O que se ouvia era os tiros

Já um pouco compassados,

Parecia briga de touros

Que fede chifre queimado.

 

E assim foi cessando

Os tiros, os estampidos,

Alguém que tinha corrido

Veio voltando assustado,

Vendo o Horácio ensangüentado

Na cabeça, três balas de raspão,

Pois tinha o chapéu na mão

Com os três furos de bala,

O mesmo, que o Assis tinha no pala

Com a perna quebrada

Mas não se deu por derrotado,

Posso perder a vida peleando

Mas não perco as armas pro delegado.