MENINO DE RUA

João Batista de Oliveira Gomes

 

Era pobre, muito pobre

Porém feliz o menino,

E já trazia um destino

Que ele não entendia,

Tinha a mãe por companhia

O pai, largou-se no mundo

Ele sabia no fundo

Mesmo antes de nascer,

Que o pai que o gerou

Não o quis reconhecer.

 

Sua mãe que era tão jovem

Bem na flor da mocidade,

Só tinha dificuldade

E nada mais encontrava,

co'os braços trabalhava

Pra sustentar o menino,

A esperança foi sumindo

E logo veio o atrapalho,

Uma maldita doença

Que lhe tirou do trabalho.

 

Quase entrando em desespero

Na favela em que morava,

Vertendo lágrimas olhava

Firmemente pro filhinho,

Que só tinha sete aninhos

Era mesmo uma criança,

Sua única esperança

Que restava era o guri,

- Filho, temos que arrumar

Um trabalhinho pra ti.

 

O menino  muito esperto

E bastante inteligente,

E vendo sua mãe doente

Que trabalhar não podia,

Disse a ela que iria

resolver a situação,

Com uma cestinha na mão

Com ela foi conversar,

- Mãezinha não fique triste

Amanhã vou trabalhar.

 

E no outro dia cedito

O menino se preparou,

E rua afora se mandou

Já sabia o que fazer,

Sua cesta foi abastecer

Com balas, e bem sortidas

Saiu então para lida

Alegre, muito faceiro

Pelas ruas da cidade:

-"Olha a bala, olha o baleiro"

 

E bem no final da tarde

Sentindo muita canceira,

Mas já tinha na algibeira

Algum troquito guardado,

Do trabalho o resultado

Era pouco, mas sobrou

Quando à favela chegou,

Co'alguma coisa na mão

Disse: Mãe trouxe tão pouco

Mas dará uma refeição.

 

O menino foi levando

A vida conforme dava,

A mãe sempre aconselhava

Prá nunca fazer bobagem,

Mas caiu na malandragem

Com seus colegas de rua

Mesmo sem vontade sua

A coisa errada fazia,

Mas dos conselhos da mãe

O piá não esquecia.

 

A mãe que sempre sonhou

Em ver o filho estudando,

Talvez até se formando

Prá um dia viver melhor,

Só viu de mal a pior,

Começou compreender

Que jamais iria ver

O seu sonho realizado,

Era tudo ilusão

O que ela tinha sonhado.

 

E o tempo foi passando

O menino foi crescendo,

E muita coisa aprendendo

Dando a mãe preocupação,

Que não tinha solução

Nem para quem recorrer,

Nada podendo fazer

A Deus pediu proteção,

Por que um dia esse menino

Não se tornasse um ladrão.

 

Pois na rua ele tinha

Uma grande irmandade,

Os filhos da sociedade

Se tornando marginais,

Enjeitados pelos pais

Que deles querem distância,

Pobre dessas crianças

Que nasceram com a má sorte,

Uns chegam a sobreviver

Outros encontram a morte.

 

E aquele piá de rua

Para a mãe a proteção,

Trazendo a alimentação

Que nem sempre conseguia,

Ao chegar no fim do dia

Quase nada lhe sobrava,

Sempre algo lhe faltava

O que já era rotineiro,

Mas ele sempre insistindo:

-"Olha a bala, olha o baleiro".

 

Este menino baleiro

Já três anos trabalhava,

Sua mãezinha sustentava

Seguindo conselhos dela,

Quando sai lá da favela

A mãe fica rezando,

Que Deus vá te acompanhando

E por certo o acompanhou,

Passou o dia, veio a noite

E o menino não voltou.

 

Passou a noite solita

Sem dormir um cochilão,

Co'aperto no coração

Teve que ouvir a notícia

Que um bandido, por malícia

Mais um crime cometeu,

Foi vítima, o filho seu

Aquele menino guerreiro,

Que gritou até a última hora:

-"Olha a bala, olha o baleiro".