LEMBRANDO MINHA INFÂNCIA

João Batista de Oliveira Gomes

 

Às vezes estou lembrando

Da terra onde nasci,

Dos meus tempos de guri

Onde passei minha infância,

Brincava com as crianças

Mais ou menos da minha idade,

Quando lembro tudo isto

Quase morro de saudade.

 

Lembro o rancho onde morava

Que foi feito meio a grito,

Pois até era bonito

Lá bem longe na baixada,

De madeiras falquejadas

Lá na beira de um riozinho,

Nos fundos sombra bem boa

na frente um pinheirinho.

 

Lembro o berço que eu tive

Que isto é coisa muito rara,

Uma rede de taquara

Que ganhei do meu avô,

De tão velha terminou

Mas nem por isso esqueci,

Pois muitos e muitos sonos

Naquela cesta eu dormi.

 

E quantas coisas bonitas

Que eu tenho recordação,

O velho fogo de chão

A cozinha enfumaçada,

Picumã dependurada

Nas travessas do oitão,

O velho forno de pedra

Que minha mãe assava o pão.

 

Lembro a chaleira preta

Dependurada no gancho,

E lá num canto do rancho

Os trastes pendurados,

Também lembro o socado

Traste velho de valor,

Que há tempo foi muito usado

Pelo peão domador.

 

Lembro o tostado velho

Petiço muito mansinho,

Eu que desde piazinho

No lombo dele eu andava,

E quando minha mãe mandava

Bem ligeiro num pique,

Pra comprar alguma coisa

Na bodega do Henrique.

 

Lá eu fazia as minhas compras

A dinheiro ou mesmo fiado,

Numa mala de riscado

Minhas comprinhas guardava,

E no petiço eu montava

Já piazito feito gente,

Em casa a mãe esperava

Bem alegre e sorridente.

 

O tempo vai passando

E as coisas desaparecem,

E o povo quase que esquece

Os costumes do Rio Grande,

Não se vê mais tropa grande

Já nem se fala em tropeiro,

Não se ouve mais um berrante

Nem batida de cincerro.

 

E quando lembro tudo isto

Bate forte o coração,

Quase morro de emoção

Com vontade de gritar,

Preciso desabafar

Mas logo vou me acalmando,

Baixo a cebeça calado

Pra não acabar chorando.