CUSCO TÓZINHO
João Batista de Oliveira Gomes
Este nome de Tózinho
É um nome meio esquisito,
Pois não é nome bonito
Foi eu mesmo que escolhi,
Nos meus tempos de guri
Piazito meio pachola
Pois foi lá, na minha escola
Que uma cusca descobri.
Cusca velha, muito feia
Magricela, arrepiada,
Tive pena da coitada
Mas senti um
certo entono,
Será que não teve dono?
Talvez fosse enjeitada,
Solta a beira da estrada
Pra morrer no abandono.
Aré os animais sem destino
Nascem com ele traçado,
Quase sempre abandonados
Quando não matam na hora,
Vão rolando rua a fora
Tenho pena desses bichos,
Comendo restos de lixos
Só lembrar já me apavora.
E a cusca velha ao me ver
Fugia por ser arisca,
Fui chamando-a de Faísca
Para ver se ela atendia,
E já no teiceiro dia
Ao me encontrar não correu,
Talvez até entendeu
Que lhe judiar, não queria.
E fui tratando da cusca
Apesar de não ter renda,
Com minha própria merenda
Que eu deixava de comer,
Porque não podia ver
Aquela pobre cusquinha,
Ali no mundo sozinha
De pura fome morrer.
E deste trabalho que fiz
Logo veio o resultado,
Eu faceiro, estusiasmado
Ao chegar na
escola um dia,
A cusca estava de cria
E logo pensei assim:
- Vou apartar um pra mim,
É o cachorro que eu queria.
Era pitoco de nascência
Muito lindo o cachorrinho,
Pus o nome de tózinho
E nem tinha o olho aberto,
Mas notei que era esperto
Pois tinha unha perdida,
Sempre dá bom pra lida
Este é um ditado bem certo.
Deu mesmo de fato
Este cusco que criei,
Como eu queria, ensinei
Apesar de não ter raça
Se alguém fizesse ameaça,
Já dava um salto pra frente
Prendia o índio no dente,
Que eu até achava graça.
Pra cuidar do rancho, então
Verdadeiro
sentinela,
Se alguém tocasse a cancela
De pronto o cusco latia,
E o cuera se precavia
E lá ficava esperando,
E o cusco resmungando
Até que alguém atendia.
Bem assim era o meu cusco
Mui fiel e companheiro,
Enjeitei muito dinheiro
Pelo meu cusco Tózinho,
Se eu criei desde novinho
Há de andar sempre comigo,
É o meu verdadeiro amigo
Que não me deixa sozinho.
O que fizeram não se faz
nem mesmo por desaforo,
Envenenaram o meu cachorro
Que foi morrendo aos
pouquinhos,
Ter que morrer sozinho
O que mais me comoveu,
E foi assim que morreu
O meu cusco Tózinho.