CHAPÉU VELHO
João Batista de Oliveira Gomes
Meu velho chapéu preto
Da aba meio caída,
Chapéu velho pra toda a lida
Campereadas, dias de festas,
Pois te tapeio na testa
Quando encilho meu pingo,
E saio bem pacholento
Pra um passeio de domingo.
Êta, meu chapéu velho!
Hoje te vejo amassado,
Mas sei que teve um passado
Que pouca gente imagina,
Quanta manha de china
Meu chapéu velho escutou,
E quanto rosto bonito
Em tua aba se abrigou.
Este velho chapéu preto
Já quase virado em trapo,
É chapéu de um índio guapo
Que nunca te deixou de usar,
E por isso vou explicar
O porque
deste motivo,
Chapéu velho foi presente
De meu grande amigo Altivo.
Foi presente que ganhei
Deste grande amigo meu,
O chapéu velho ele me deu
Como prova de amizade,
Faceiro
barbaridade
Digo a vocês que fiquei,
E abraçando o meu amigo
Só por pouco não chorei.
Desde então chapéu velho
Tu sempre
me acompanhou,
Em toda a parte que vou
Por incrível que pareça,
Contigo na mia cabeça
Não costumo fazer feio,
Contigo meu chapéu velho
Eu entro em qualquer rodeio.
E se ás vezes facilito
Nas andanças pelo pago,
Se resolvo tomar trago
E esquentar o pensamento,
E já durmo no relento
Chapéu velho é companheiro,
Quantas vezes nas sesteadas
Me serviu de travesseiro.
É por isso que te digo
Meu chapéu velho amassado,
No dia que eu for chamado
Lá pra estância do patrão,
Quero folga no caixão
Pra levar-te meu chapéu,
Tu vais camperear comigo
Na estância grande do céu.