A VIDA DE UM PEÃO

João Batista de Oliveira Gomes

 

Um dia desses passados

Era cedo quando acordei,

E em seguida levantei

Para cevar meu chimarrão,

Já fui batendo o tição

Para o fogo iniciar,

A velha cambona preta

Com a água pra esquentar.

 

E fui mateando solito

E recordando o passado,

Por onde eu já tenho andado

E os perigos que passei,

Quanta peleia enfrentei

Em festas, carreira ou venda,

Quase sempre começava

Por ciúmes de alguma prenda.

 

De uma feita ainda lembro

Na cidade de Cachoeira,

Por chinoca caborteira

Me armaram uma emboscada,

Me vi pouco, quase nada

Mas já virou a ladainha,

Fui defendendo no braço

Com a destreza que tinha.

 

Assim eu levava a vida

Pois lembro as provas que fiz

Na fazenda do seu Assis

Quebrei queixo a muito potro,

Apeava de um, montava noutro

Pealava lá na coxilha,

Pois tenho marcas no corpo

Das guampas de uma novilha.

 

Peleei muito com a vida

Até mesmo contra a morte,

Não sei se faltava sorte

Alguma coisa faltava,

E prenda não acertava

Um pealo neste gaudério

Mas de repente mudou

Até parece um mistério.

 

Pois foi assim que eu senti

Na vida uma mudança,

Num entrevero de dança

Em fandango de galpão,

Foi quando a tal paixão

Foi chegando de mansito,

E tomou conta deste peão:

Já não vivo mais solito.

 

Pealado por uma prenda

Até gostei deste tombo,

Me pealou de sobre lombo

Atirando certo seu laço,

E me prendeu em seus braços

Pois deu certo o que eu queria,

Já tomou conta de mim

E acabou minha valentia.

 

Eu hoje vivo tranqüilo

Tenho paz, tenho alegria,

Tenho a prenda que eu queria

Que demorei encontrar

Já estou pensando em casar

E construir meu ranchito,

Para morar com minha prenda

E uns quatro ou cinco piazitos.

 

Pois já deixei de meus vícios

Já deixei de ser gaudério,

Pois hoje sou um homem sério

Pra a vida dou mais valor,

Me enredei no tal de amor

Por certo o destino quis,

Vivo cheio de alegria

Levando a vida feliz.