APELO

João Batista de Oliveira Gomes

 

Numa manhã de domingo

Quando no rancho eu mateava,

Minha prenda e companheira

No mate me acompanhava,

O sol lento despontando

Por traz da mata espiando,

Dando vida a natureza,

Eu ouvia com clareza

A passarada cantando.

 

Entre um, e outro mate

Qua a velha cuia roncava,

Naquela manhã bonita

Eu recebia uma visita,

Das que jamais esperava.

 

Foi coisa linda demais

O que neste dia aconteceu,

Lá na porta do meu rancho

Um grande amigo apareceu,

Chegou alegre, cantando

E eu só fiquei escutando

Tudo aquilo me comoveu.

 

Então eu fiquei sismado

Com minha cuia na mão,

Um engenheiro formado

Colega de profissão

Que veio me visitar,

Talvez querendo contar

A grande dor que sentia,

Um mestre da engenharia

E por demais conhecido,

Que por maldade de alguém

Um acidente tinha sofrido.

 

Vejam quanta judiaria

Barreiro não merecia

Passar por provas assim,

E senti dentro de mim

O coração revoltado,

De vê-lo assim aleijado

Quando certamente buscava

Comida pros filhotinhos,

Fora acertado na perna

Por caçador de passarinhos.

 

E foi por isso que escrevi

Estes versos que declamo,

Para quem cabe o direito

Eu insisto, ao meu jeito

Para os senhores reclamo,

Pra que seja reprendido

Dentro, na forma da lei

Se peço é porque sei

Eu que já fui piá também

Só que nunca fui daninho,

Não matava passarinho

Que não faz mal a ninguém.

 

E toda a manhã de domingo

Que no rancho tô mateando,

Eu fico me perguntando:

- Que será que aconteceu?

Tomo um mate, e mais outro

E tragueio um cigarro,

Meu coração, vira potro

Pois não vejo o João de Barro.