A UTILIDADE DO SEBO
João Alves Garcia
Depois que peste suína
Acabou com a porcada
Nunca mais pude comer
Uma polenta engraxada.
Subiu o preço da banha
O azeite é uma parada
Por isso apelei pro sebo
Mas que graxinha danada.
Enquanto é quente apetece,
Porém, se esfria endurece
E na goela dá uma guasquiada.
Para o meu aniversário,
Que foi neste mês passado,
Convidei quarenta chinas
Que eu já tinha namorado,
Comprei dois barris de vinho,
De canha, três engradados.
Preparei um carreteiro
E um baita dum revirado,
A minha grana sumiu,
Mas larguei o mulheriu
Com o beiço todo ensebado.
Um candidato a prefeito
O tal Pedro Missioneiro,
Deu um chego lá por casa,
No meu voto intereceiro,
Antes dele
abrir o papo,
Fui perguntando primeiro
Se
apreciava bolo frito,
Dum fubazinho
caseiro;
O convite ele aceitou
Mas quando o sebo cheirou
Não vi mais o companheiro.
Um italiano sovina
Que chamava Perceval,
Andava de casa em casa
Comendo que era um bagual,
Convidei este vivente
Prum almoço no Natal,
Coloquei bastante sebo
E o gaúcho se deu mal;
Logo lhe roncou as tripas,
E gritando “Porca pipa”,
Se atracou num matagal.
Desde que eu passei usar
O sebo na refeição,
Por incrível que pareça,
Não vi mais nem um ratão,
Sumiram meus quinze gatos,
Só ficou um no porão,
Porque está descaderado
E maneta de uma mão.
E os, vinte e cinco guaipeca
Nem a toque de rebeca,
Voltam a comer meu feijão.