ALÍPIO FERREIRA

 João Alves Garcia

 

Quando São José do Ouro

À Lagoa, pertencia,

Um índio por lá vivia

Sua velhice intretendo

Quase de tudo, fazendo,

Antes que a força minguasse

E o cansaço pialasse

Para a morte lhe vendendo.

 

Chamava-se Alípio Ferreira

O referido vivente

Que andava constantemente

Gineteando uma petiça

Animal que o próprio tica

Se lhe obrigassem montar

Preferia até rezar

E assistir a Santa Missa.

 

Na velha casa Queimada

Onde covarde não ia

O gaúcho aparecia

No bolicho do Florêncio

Bebendo canha em silêncio

Deixando a garganta nova

Pra mais tarde numa trova

Dá uns puaços no Terêncio.

 

Numa gaitinha floreada

Portadora de oito baixos

O velhodava esculachos

Em calo que mui rinhava

Espora e crista cortava

Pois tinha sobra de raça

Se apoderando da taça

Quando um bugio sapecava.

 

Ginetear um aporreado

O mulato tinha gosto

Brilhava o moreno rosto

Numa buenacha risada

Porque daquela gineteada

Era o que mais entendia

Por isso se divertia

Do espanto da peonada.

 

Na marcação de dois bravos

O patrão deixava dito

Não vindo aquele negrito

Nem mexam com esse gado

Pois estou conscientizado

Que peão igual ao Ferreira

Se existisse na fronteira

Hoje chamariam de finado.

 

Com seu facão campeiro

O guasca pintava o “sete”

Deixou índio sem topete

Quando em novato peleou

Muito rancho farquejou

Desde a parede ao girau

E lombo de quera mau

A pranchaços, alisou.

 

Bombacha de pano grosso

Feitio de china purquéria

Cobria a bota gaudéria

Fazendo vento no chão

A espora no garrão

Num costumeiro tinido

E um maragato estendido

Orgulhando o gauchão.

 

Rapadura em maço grande

E uma cancha mui macota

Que da costa do Pelotas

Transportava de bruaca

Vendendo em bodega fraca

Comum lucrinhomichado

Porque os cobres retovados

Se intrigam com a guaiaca.

 

Seu crioulo mui bagual

Parecido com um tição

Na hora do chimarrão

Ou golpeando uma cachaça

Tragava aquela fumaça

Que se igualava ao prazer

De pro rancho recolher

Uma chinoca lindaça.

 

 

Com setenta e lá vai chumbo

Um dia sentiu quye estava

Uma china começava

A negaciar sua vida

Sem armas, aquelça atrevida

Mas peleando no mistério

Lá num xucro cemitério

A gauchada é vencida


 


E o nosso velho Ferreira

Que não perdia pra nada

Se entregou para a aporreada

Que o levou como o Sepé

Bem longe de São José

Para um estranho rincão

Onde um dia, xiruzão,

De te encontrar tenho fé.