UMBU SOLITÁRIO
Jayme Caetano Braun
Umbu velho carcomido
Pela inclemência dos anos
De onde o pássaro vaqueano
Por entre a escassa ramagem
Vem te render homenagem
E numa toada bravia
Saúda as barras do dia
Dando um concerto selvagem!
E rendido ante a grandeza
Do teu vulto Patriarca
Desfolha de cada marca
Uma história esquecida
Que os atropelos da vida
Na sua rudez insana
Gravaram com mão profana
Na velha casca ferida!
De uma feita um carreteiro
Que por ali pernoitara
O fogão não apagara
Ao continuar a jornada
E a labareda atiçada
Todo o tronco sapecara!
E um farrapo perseguido
Pousando na sombra mansa
Quis deixar como lembrança
Um coração trespassado
E ali no tronco encruado
Quebrara a ponta da lança!
E doutra feita, ao voltar
Dum fandango um índio guasca
Passara-lhe uma chavasca
Aos manotaços sem pena
E os sinais de uma morena
Bordara na flor da casca!
E um cacique convertido
Ao tornar de uma excursão
Riscou no tronco guardião
Como sinal de amizade
E respeito à divindade
O santo sinal cristão!
Tudo viu, tudo guardou
O velho umbu solitário
Sentinela milenário
Que tem viva na retina
A imagem sã e cristalina
Do passado legendário!
Muitas vezes se toparam
Na sombra do velho umbu
farrapo e caramuru,
E tribos índias vagando
Descansaram se bombeando
Das boleadas do nhandu!
Viu passarem aos magotes
Os maulas fazendo estrago
E até mesmo um índio vago
seguido pela má sorte
Viera procurar a morte
Ali distante do pago!
Por isso umbu, tu espelhas
O presente e o passado
E o fanatismo sagrado
Do amor pelo rincão
E o fogo da tradição
Que já está quase apagado!
Qual um gigante invencível
Que na luta não se abate
E ferido em mil combates
Perde sangue aos borbotões
Olhando longe os rincões
Transfigurando num templo
Teu vulto será um exemplo
Nas futuras Gerações!!