SANGUE FARRAPO
Jayme Caetano Braun
Fui sempre assim - no campo
aberto,
muitos anos,
guardando as linhas
da fronteira - que empurrava,
os índios - tigres - as
peleias,
castelhanos,
primeiro sempre,
quando a pátria me chamava!
Mas o descaso do império
cresceu tanto
que alcei um grito,
de querência e geografia,
compondo um hino de legenda
com meu canto,
que fez tremer - de cima a
baixo,
a tirania!
Choraram mães, pelearam pais,
irmãos e filhos,
porque - aos tiranos,
pouco importa a dor alheia
e andei dez anos,
no calvário da peleia,
na guerra santa,
dos monarcas dos lombilhos!
Até o negrinho das formigas
compreendia,
no pastoreio,
meus anseios de índio guapo,
em cada nota do meu canto
que dizia
que eu era pátria - era Rio
Grande,
era farrapo!
Levou dez anos pra entender
a monarquia,
essa epopéia que escrevi,
de lança em punho,
e a história presta, com
respeito,
o testemunho
que era ser pátria,
apenasmente,
o que eu queria!
Hoje - quer seja -
funcionário,
ou operário,
ou da cidade - ou da lavoura
ou do rodeio,
ante os que aviltam o
trabalho
e o salário,
se me obrigarem a escolher,
volto e peleio!