QUERO-QUERO!
Jayme Caetano Braun
Vulto gaudério e teatino
Do velho pampa deserto,
No teu rancho a descoberto
Dos ventos
desprotegido,
És o pássaro aguerrido
Das lendas da tradição
E o guasca do meu rincão,
Por lei de Nosso Senhor,
Para ser madrugador
Tem de guardar teu ferrão!
Foi a
lança ponteaguda
Desse ferrão colorado
Que te fez guarda avançado
Desta planura infinita,
Onde o gaúcho transita
Como guasca soberano,
É onde o teu vulto haragano
Foi o
sentinela altivo
No cenário primitivo
Do velho drama pampeano!
O próprio Deus rio-grandense
Que te deu esse penacho
E a parada de índio macho
Que tão soberano ostentas,
Fez este pampa onde sentas
Das revoadas interminas,
Que fez o rancho e as chinas
A tapera e o umbu,
Não fez outro como tu,
Velho guardião das campinas!
Sentinela do Rio Grande,
Por divino privilégio,
Tu guardas o sortilégio
Das nossas lendas de antanho,
Por isso teu grito estranho
Que horas mortas se propaga
É o eco que não se apaga
Como eterna relembrança
Das velhas cargas de lança
E os entreveros de adaga!
Desfolhas quando te acordas
Junto a
taipa dos açudes,
As evocações mais rudes
De nosso heróico passado,
És o grito abarbarado
Do charrua em pé de guerra
Que na fronteira e na serra
Consagrou com estoicismo
O lendário catecismo
Das tradições desta terra!
Se Deus te deu esse grito
Cheio de estranhos acordes
Não foi para que recordes
O drama da raça extinta:
Ele te deu essa pinta
Para que graves com ela,
Tudo que a história revela
E que o tempo não enrasca
Enquanto existir um guasca
Contigo de sentinela!
Um dia hei de consagrar
Esse teu vulto bagual
No topo de um pedestal
Feito de cerne e granito,
Onde há de ficar escrito
O teu livro de façanhas
Para que nestas campanhas
Quando se apagar teu grito,
O guasca que andar proscrito
Pela inclemência da sorte,
Junto de ti, se conforte
Velho pássaro bendito!!!!