QUERÊNCIA
Jayme Caetano Braun
Querência, rincão querido
Do bochincho e do fandango,
Da boleadeira e do mango,
Da coxilha e da canhada,
Querência verde, orvalhada
Dos ventos que se adelgaçam,
Repetindo quando passam:
- Já fui tudo e não sou nada!
Rincão da flor colorada
No topete das morenas,
Do tilintar das chilenas
E do umbu, triste e sozinho
De onde o ben-te-vi,
do ninho
Nas alvoradas serenas
Desfia um sem fim de penas
Na evocação de um carinho!
Querência do cusco amigo,
Nobre e guapo companheiro,
Do balcão do bolicheiro,
Da china linda e do trago,
Do paisano que anda vago
Sem parador nem querência
E vai curtindo na ausência
Recuerdos de algum afago!
Querência do mate-amargo
Cevado em fogão tropeiro,
Do redomão caborteiro
Que num upa corcoveia,
Da cruz carcomida e feia
Entre moitas de erva rala,
Que tristemente assinala
Vestígios de uma peleia!
Querência do carreteiro
Sempre a cruzar ao tranquito
Na sina de andar solito
Junto a
carreta que passa,
Como duende que esvoaça,
Levando para o infinito
O fardo santo
e bendito
Dos atavismos da raça!
Querência de Trinta e Cinco
Que a voz do tempo proclama
Como cenário do drama
De entreveros e guerrilhas
Quando as lanças farroupilhas
Nas arrancadas de glória
Pontilharam nossa história
No verde chão da coxilhas.
Quarência da gaita velha
Que pacholeando se espalha,
Do velho rancho de palha
Abandonado ao rigor
E o pavilhão tricolos
Que foi sinal de batalha
E hoje serve de mortalha
Do gaúcho peleador!
Venceste o rigor dos anos
Querência das noites calmar
Porque és gravada nas almas
Dos que seguiram teu fado
E hão de ficar ao teu lado
Na imensidão do teu bojo
Bebendo o último apojo
Das glórias do teu reinado!!!