POUSO DE CARRETAS

Jayme Caetano Braun

 

Amontoados sobre a lomba

Vermelha., de um coxilhão,

No ermo greste, de plantão,

Se levanta tr~es umbus

Que os desatinos mais crus

Bordaram de cicatrizes

Desenterrando as raízes

Como braços seminus!

 

Foi ali antigo reduto

De velho rancho posteiro

Que abandonado ao pampeiro

Do mato bravo foi presa,

Mala suerte, com certeza,

De algum paisano teatino

Que ao lutar contra o destino

Foi pegado de surpresa!

 

Hoje um pouso de carretas

É no mais, tudo o que resta,

Onde nas horas de sesta

Vem se reunir a boiada

E o carreteiro se estende

Nos pelegos, porque entende,

Que vai ser longa a jornada!

 

Chapéu protegendo os olhos

Contra a forte claridade

Presa fácil da saudade

Que se achega matreriando

Dali o índio vai olhando

A grandeza que o rodeia

E o silêncio que o maneia

Qual alma que anda penando!

 

Repara a tronqueira velha

Em cujo topo um barreiro

Moldou de torrão grosseiro

A mais chucra residência,

De onde a salvo da inclemência,

De espinhos, cardos e urtigas

Vai desmanchando em cantigas

Seu grande amor à querência!

 

Crioulos da velha templa,

Que não enverga nem lasca,

Como os umbus, que na casca,

Guardam sinais denegridos,

São os floreios sentidos

Desse passarinho guasca

Que quando canta, descasca

Velhos recuerdos perdidos.

 

E os olhos do carreteiro

Vão se orvalhando cuê pucha,

Pois na estampa pequerrucha

Daquele abrigo sem porta,

Entrevê a grandeza morta

Da velha estirpe gaúcha

Que mal ferida estrebucha

Numa agonia que corta!

 

Deixa correr, carreteiro

As lágrimas da saudade,

Já pouco resta, é verdade

Dos lindos tempos de outrora

O passado foi se embora

E tudo o que conheceste,

Já são pousos como este

Onde ninguém se demora!

 

Eu porém, que carreteio

Tristezas e desenganos,

Como outros tantos paisanos

Do meu Rio Grande lendário,

Quando findar meu calvário

Quero encontrar o descanso

Dormindo no pasto manso

De algum pouso solitário!