PONCHO PÁTRIA
Jayme Caetano Braun
Meu velho poncho peludo,
de tanto andar em tropeada,
hoje - que não tenho nada,
parece que tenho tudo,
nessa maciez de veludo
com baeta colorada!
Te ganhei num jogo de osso,
perto de Montevidéu,
onde foi pro beleléu,
um índio do berro grosso
e sobraste do retoço
como presente do céu!
De um "comércio de
carreira"
me lembro - poncho pachola,
veio esse rasgão na gola
de uma faca carneadeira,
- um sotreta calaveira
que deixei vivo - de esmola!
Nesse teu pano - há sinuelos
de mil rodeios bravios,
de campos - matos e rios,
entreverados com pêlos
e manojos de cabelos,
de todos os rancherios!
Rancho de gola e baeta,
poncho pátria castelhano,
te estendo de todo o pano,
como toalha de carpeta,
ou cortina de carreta,
pro chinaredo cigano!
Às vezes - meu poncho pátria,
até chego a imaginar,
que um dia - vais me abrigar,
na quincha da noite preta,
quando explodir o planeta
num holocausto nuclear!