PIAZEDO

Jayme Caetano Braun

 

Ao EDUARDO e ao LUCIANO,

Dois netos- prolongamentos,

Das ânsias dos quatro ventos,

Do pajador veterano,

Pra que guardem- mano a mano,

As tradições de raiz;

Quem sabe se- esses guris,

Depois que eu me for embora,

Não vão fazer- mundo à fora,

As pajadas que eu não fiz.

 

Volto a sombra do arvoredo,

-A escola grande da infância

A minha primeira estância,

Onde aprendi- desde cedo,

A descobrir o segredo

Das coisas do dia a dia,

Na misteriosa magia

Que nunca mais é esquecida,

As coisas simples da vida

Que a vida nos anuncia.

 

Me sonho, guri campeiro,

No rancho onde fui criado,

O varzedo aveludado,

Do meu pago missioneiro;

Meu universo primeiro

Que não consigo olvidar,

-O tempo pode passar

mas nunca esquecerei isso;

quando caí de um petiço

foi que aprendi engatinhar.

 

O gado de osso, a peonada,

Os galpões- os alambrados,

Os palanques encravados,

Os esteios da morada,

Os potreiros da invernada,

No silencioso sossego;

La maula- a lembrança, o pago

Que me chegam do passado:

-Vejo um sabugo encilhado

Com uma garra de pelego!

 

Depois...a adaga de tala

Que a gente  mesmo prepara,

Um trabuco de taquara,

Dos que não precisam bala

E as ordens de meia fala,

Da peonada imaginária,

A tendência hereditária

Que-sem saber-se descobre,

Assim- o guri pobre,

Tem infância milionária.

 

E as brigas de faz de conta,

Os apartes- os corcovos,

E os velhos brinquedos novos

Que a própria vivência aponta;

E as tropas que se reponta,

Da invernada pro potreiro;

E o patrãozinho estancieiro

Que no meu ser se encarnava,

Quando, bufando escarceava,

Numa lhaça de coqueiro.

 

Piazedo- aqui está um guri

Que te beija em pensamento

Lembrando neste momento,

A querência onde nasci

E os que sofrem por aí,

Sem pão, sem pais, sem carinho;

Eu também já fui piazinho

E ás vezes me dá uma ânsia:

Tento retornar a infância.

Mas não encontro o caminho.