PARAÍSO PERDIDO

 Jayme Caetano Braun

 

Quem já leu o livro santo

conheceu o que é preciso,

entendeu o paraíso

que era um lugaraço e tanto,

na realidade o encanto

dos tempos de antigamente,

ali não havia doente,

todo o mundo era sadio,

céue campo, mato e rio

e primavera somente.

 

Que beleza de lugar,

diz a sagrada escritura,

a luz de graça, água pura,

sem B N H a incomodar,

sem imposto pra pagar,

sem as filas, sem bandido,

sem congresso, sem pardido,

ontem, hoje e amanhã,

no meio disso, a maçã

que era o fruto proibido.

 

É o bicho amis burro,  o “Homem”

pois tudo corria bem,

ninguém roubava ninguém,

ninguém trocava de nome,

ninguém morria de fome,

nem havia o diz que disse,

foi preciso que existisse

um asno nessa Canaã:

-Adão comua maçã,

embora Deus proibisse!

 

E a gente logo imagina

pois tudo foi de improviso,

a sombra do paraíso

coberto pela neblina,

a Eva- um florão de china,

o pai Adão- cabeludo,

índio grosso sem estudo,

desageitado, sem roupa,

viu a maçã “dando” sopa

e comeu com casca e tudo.

 

E formou-se a confusão,

depois desse desacato,

a Eva se foi ao mato

e logo atrás o Adão,

resultado, a punição

que tanto transtorno encerra,

veio a doença, veio a guerra,

veio a miséria, a ganância,

e nasceu a discordância

nos quatro cantos da terra.

 

E o Senhor disse ao Adão,

roído pelo desgosto:

tu vais, com o suor no teiú rosto,

comer, de hoje em diante, o pão

sentir frio, dormir no chão,

a vida será uma luta,

daí toda a lida bruta,

decretada a cada um:

vivendo nesse zum-zum,

por causa de uma fruta.

 

E foi criado o inferno,

o verão, a primavera

o medo, a mentira, a fera

a geada o frio o inverno,

além disso o pai Eterno

deixou que o homem sofresse,

que amasse, que envelhecesse

e vivesse do serviço,

e depois de tudo isso,

ia ao céu quem merecesse.

 

E seguiu a mesma farra

numa verdadeira afronta

e ninguém pagava conta

cantando que nem cigarra,

com cordeona, com guitarra,

a cousa seguiu fervendo,

Deus terminou compreendendo,

ante a falta de respeito

que a seguir daquele jeito,

o inferno acabava enchendo.

 

E mandou Nosso Senhor,

o Menino de Belém,

o que em cada Natal, vem

trazer carinho e amor,

mas o homem pecador,

ao qual o dólar seduz

não quis compreender a luz,

da fé e da fraternidade,

Jesus falava em verdade

e o pregaram numa cruz.

 

Conta a sagrada escritura

e a gente acredita nela,

que o autor da mensagem bela,

de carinho e de ternura,

o trazia alma pura

em todas as dimensões,

o Autor de mil sermões,

de montanha e descampado,

acabou crucificado

no meio de dois ladrões.

 

E o homem que fez então,

depois da morte sublime,

ao invés de expiar o crime,

num pedido de perdão,

ao tentar a salvação,

do inferno e da fogueira,

chorando a sua maneira,

o paraíso perdido,

muito embora arrependido,

seguiu rondando a macieira...