PANELA DE CARRETEIRO

Jayme Caetano Braun

 

Há tempos, Jayme Caetano Braun ganhou uma panela de ferro do seu amigo inseparável, o Noel

Guarani. Não se sabe porque motivos - diz, ele, que "o Pedro Ortaça é o culpado" - brigaram, e o

Guarani quis a panela de volta.

Não concordando, assim alegou Jayme Caetano Braun:

 

"Panela de carreteiro,

dos tempos de monarquia

em constante romaria,

no velho pago campeiro,

regalo de um missioneiro

que me ofertou - de presente,

mas agora - indiferente,

a uma amizade sadia,

vive a sonhar - noite e dia,

chorando a panela ausente!

 

Maestro dos veteranos

da nossa canção bravia!

uma panela vazia,

não vale teus desenganos!

deixa isso pra os profanos

que a nossa história revela,

Guarani - a vida é tão bela,

em nossa terra baguala,

pra que gastar tanta fala

por causa de uma panela?

 

Larga de mão - eu te peço,

da idéia de entrar em juízo,

termina dando prejuízo,

com as custas do processo,

o tempo aponta o progresso,

sem relincho nem berro;

podes errar - como eu erro,

continuando desunidos

e nós dois sermos cozidos,

nessa panela de ferro!

 

Os três pés dessa marmita,

queimada - de casca escura,

são - na verdade - a estrutura

da nossa terra jesuíta,

por isso bugre - acredita,

na fala deste mestiço;

- canta - e não pensa mais nisso,

deixa que durma o passado,

o Pedro Ortaça é o culpado

de todo esse rebuliço!

 

Fica a panela comigo,

pois dela tenho usufruto,

cada segundo e minuto,

lembranças do tempo antigo

e - se não falo contigo,

por causa de uma querela,

caso eu estique a canela,

está gravado o decreto:

- quando tiveres um neto,

manda buscar a panela!!"