O VENTO E O PAYADOR

Jayme Caetano Braun

 

O vento caminhador,

cantava porque era vento,

mas faltava o sentimento

que vem do mundo interior

e ouvindo coplas de amor,

desde a mais xucra a mais doce,

porque era vento - adonou-se,

do canto do payador!

 

A terra que me pariu,

do ventre da geografia,

com certeza - não sabia,

qual ia ser meu feitio,

se era campo - se era rio,

berro - trovão ou relincho,

ou candeeiro de bochincho,

queimando só no pavio!

 

Decerto a velha parteira,

quando me palmeou - piazinho,

ia floreando baixinho

esta milonga campeira,

ou quem sabe - a mamadeira,

depois que deixei o seio,

era apojo de rodeio,

de alguma tigra tambeira!

 

Daí - talvez - essa ânsia,

daí - talvez esse entono,

de não ter dona nem dono

e me adonar da distância;

talvez daí - a ciscustância,

dos meus instintos selvagens,

de andar rastreando mensagens

que se extraviaram na infância!

 

Sempre existe algum refugo,

por buena que a tropa seja,

vaqueano da sina andeja,

jamais me tornei cerdugo;

não me vendo - não me alugo,

pra mim o mundo é pequeno

e as lágrimas de sereno

que a noite chora - eu enxugo!

 

Depois de enxugar o pranto

de tantas noites serenas,

foram ficando terrenas

as deusas do meu encanto,

por isso - quando levanto,

meus versos ao firmamento,

não sou mais que a voz do vento

que se adonou do meu canto!