O ÚLTIMO CAUDILHO

Jayme Caetano Braun

 

Condor xucro do Rio Grande

Que ao sol da campanha esvoaça,

Velho palanque da raça
Do mais crioulo falquejo,

Nobre Cavaleiro andejo

De mil cruzadas de glória

No parapeito da História

Hoje aprumado eu te vejo.

 

Herdeiro de Canabarro,

De Souza Neto e de Osório,

Legenda de um território

Que foi berço de condores,

Monarca Entre os peleadores

Da velha cavalaria,

Trinta e Cinco retinia

Na espada do, velho Flores.

 

Valente cabo-de-guerra

De heróicas revoluções,

Reserva de Tradições

Deste pago onde nascemos.

Campeão de feitos supremos

Que inda vibram nas canhadas

Nas últimas alvoroçadas

Dos clarins de Honório Lemos.

 

Encarnas, soldado guasca,

Nessa máscula imponência,

A intrepidez da querência

E a fibra de mil Varões.

Legenda ao pé dos fogões

Que o tempo jamais consome,

A história gravou teu nome

No brilho de teus galões.

 

Por isso é que hoje revives

Quando assomas á tribuna,

A velha raça turuna

Mescla de santa e pagã.

Nobre e glorioso titã

Me parece, quando falas,

Que escuto assovios de balas

No velho Ibirapuitã.

 

Velho cacique indomável

De tanta fibra e valor.

Rude CID o campeador

Dos pampas meridionais.

Hoje não peleias mais

Com lanças e boleadeiras,

Nem consolidas fronteiras

Nas patas dos teus baguais.

 

Tu que nunca respeitaste

Noite escura ou sanga cheia,

Tu que entravas na peleia

Sempre brigando na frente,

Valente, sempre valente,

Pelo chão do qual és filho,

És o último Caudilho

Que sobrou da nossa gente.

 

Já não se escuta teu grito

Ecoar na campanha larga

Mandando mais uma carga,

Sem nunca voltar atrás.

Velho cavaleiro audaz

Dos mais bárbaros arrancos,

Hoje teus cabelos brancos
Lembram bandeiras de paz.

 

Ficaste qual pé de umbu

Sobre uma lomba solito,

Onde o gaúcho contrito

Feliz te reverencia

Pois tua estampa bravia,

Que um dia já foi modelo,

Deus conservou pra sinuelo

De nobreza e fidalguia.

 

Há dias vibrei de orgulho

Ao te ver condecorado,

Incomparável soldado,

Campeador de mil batalhas,

As lanças nem as mortalhas

Jamais curvaram teu porte

Porque nesse peito forte

Cabem milhões de medalhas.

 

Mas além dessas comendas

E outros terrenos troféus

Gravaste sob estes céus

Mechas que ninguém cunha

E o Brasil é testemunha,

Que por mais que a história ande

Nunca haverá outro Rio Grande

Nem outro, Flores da Cunha.